Gilmar França

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quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

DESABAFO DE UMA PROFESSORA

Não é de hoje que o Estado tem falta de professores, mas temos todos bons motivos para preocupação neste início de ano letivo.

Vejam o desabafo da professora Nina Antonioli, que vou reproduzir porque, ao contrário de outros funcionários públicos temerosos de retaliação, ela se identificou:

“Sou Nina, professora do estado e gostaria de comentar algo que poderia ser assunto no teu blogue. Nunca pensei que um dia fosse escrever sobre isso, que é a questão de falta de professores no estado. Um problema meio batido, mas que só agora vi o tamanho do “buraco”, pois estou tentando uma licença de qualificação profissional para fazer o mestrado.

Todas as vezes que fui à Secretaria de Educação para pedir documentação necessária para entrar com o processo de licença (licença que eu tenho direito, está garantida por lei e mantem o meu salário, porque é para fazer um curso de qualificação na área que eu atuo) o que ouvi é: “não vão te liberar porque não tem professor para colocar nas escolas“. Na minha escola, por exemplo, que é um escola bem pequena, vai faltar professor de português, com ou sem a minha licença.

Há três anos eu era convocada por mais horas, em função de falta de professores. Tive alunas, por exemplo, que vinham da Lomba do Pinheiro ter aulas; elas tinham sido transferidas para a nossa escola no meio do ano, em agosto. Desde março elas estavam sem professor de português, na outra escola. Quer dizer, minha escola, que é na região central, é “privilegiada”, pois as escolas de periferia estão em situação ainda pior.

O que o Governo faz para resolver isso é contratar professores, o regime é contrato emergencial. O contrato é um problema sério, porque é um dispositivo que serve para recrutar professores para resolver emergências, ou seja, cobrir licenças — aquelas que eu disse que não estão concedendo. O contrato deve cobrir as licenças saúde, gestante, de qualificação profissional (a que eu busco) e a interesse. É ilegal o professor contratado substituir uma vaga que deveria ser exercida por um professor nomeado em concurso sem licença alguma (para se ter uma ideia, na Prefeitura de Porto Alegre, por exemplo, já há processos para que haja urgentemente um concurso para médicos, em função da mesma lei).

Se tu fores a três escolas aleatórias e perguntares quantos professores são nomeados e quantos são contratados, vais ouvir como resposta, pelo menos, 50%/50% — com exceção de colégios grandes como o Instituto de Educação ou Júlio de Castilhos, que mesmo assim, têm um alto número de contratos. Além disso, o professor contratado não presta prova para ingressar no Estado, trabalha em 3, 4 escolas, não consegue participar de reuniões e não têm direito a licença saúde, a menos que seja gestante (quer dizer, direito tem, mas depois de uma licença saúde, os contratados são mandados embora, ou sofrem uma pressão para “não adoecer mais”).

Não entendo como o Governo tem coragem de dizer que a Educação no Estado melhorou em torno de 100% nos últimos três anos, de acordo com dados na propaganda veiculada pelo próprio Estado.

A governadora diz que atualmente há mais inativos (pensionistas) do que ativos, entre os professores e isso é um problema. Há mais inativos porque não há concurso público que dê conta do número de ativos necessários dentro de uma escola.

Será que essa questão de falta de professores pode ser uma boa ideia de comentário?

Bem, hoje me dei conta de que às vezes a gente só vê a dimensão do problema quando faz parte dele. Que tristeza ver em que nível a situação chegou, em relação à educação!
Nina”

Fonte: Blog Rosane de Oliveira

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