Gilmar França

Gilmar França
A serviço da categoria!

domingo, 28 de fevereiro de 2010

AJUSTE FISCAL COM RECURSOS DO SUS

Caros Leitores:

Julquei que seria interressante em tempos de DENGUE reproduzir o texto abaixo que a revista Carta Capital deste final de semana trás em sua edição. voce já leu aqui neste espaço outras matérias sobre o que o governo do estado vem fazendo com as verbas do sistema unico de saude. Enquando nós população, trabalhadores e a imprensa ficamos empilhando e contando os mortos, eles ficam investindo no mercado financeiro. Estive no conselho estadual de saude no dia 25-2-2009 e neste dia o conselho aprovou uma resolução para que o ministerio da saude suspenda o repasse de recursos do sus para o estado, e que o proprio ministerio administre estes recursos. leia o texto:

Auditoria aponta que governos de SP, DF, MG e RS usaram recursos do SUS para fazer ajuste fiscal Sem alarde e com um grupo reduzido de técnicos, coube a um pequeno e organizado órgão de terceiro escalão do Ministério da Saúde, o Departamento Nacional de Auditorias do Sistema Único de Saúde (Denasus), descobrir um recorrente crime cometido contra a saúde pública no Brasil.

Em três dos mais desenvolvidos e ricos estados do País, São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, todos governados pelo PSDB, e no Distrito Federal, durante a gestão do DEM, os recursos do SUS têm sido aplicados, ao longo dos últimos quatro anos, no mercado financeiro. A manobra serviu aparentemente para incrementar programas estaduais- de choques de gestão, como manda a cartilha liberal, e políticas de déficit zero, em detrimento do atendimento a uma população estimada em 74,8 milhões de habitantes.

O Denasus listou ainda uma série de exemplos de desrespeito à Constituição Federal, a normas do Ministério da Saúde e de utilização ilegal de verbas do SUS em outras áreas de governo. Ao todo, o prejuízo gerado aos sistemas de saúde desses estados passa de 6,5 bilhões de reais, sem falar nas consequências para seus usuários, justamente os brasileiros mais pobres. As auditorias, realizadas nos 26 estados e no DF, foram iniciadas no fim de março de 2009 e entregues ao ministro da Saúde, José Gomes Temporão, em 10 de janeiro deste ano. Ao todo, cinco equipes do Denasus percorreram o País para cruzar dados contábeis e fiscais com indicadores de saúde.

A intenção era saber quanto cada estado recebeu do SUS e, principalmente, o que fez com os recursos federais. Na maioria das unidades visitadas, foi constatado o não cumprimento da Emenda Constitucional nº 29, de 2000, que obriga a aplicação em saúde de 12% da receita líquida de todos os impostos estaduais. Essa legislação ainda precisa ser regulamentada. Ao analisar as contas, os técnicos ficaram surpresos com o volume de recursos federais do SUS aplicados no mercado financeiro, de forma cumulativa, ou seja, em longos períodos. Legalmente, o gestor dos recursos é, inclusive, estimulado a fazer esse tipo de aplicação, desde que antes dos prazos de utilização da verba, coisa de, no máximo, 90 dias. Em Alagoas, governado pelo também tucano Teotônio Vilela Filho, o Denasus constatou operações semelhantes, mas sem nenhum prejuízo aos usuários do SUS. Nos casos mais graves, foram detectadas, porém, transferências antigas de recursos manipulados, irregularmente, em contas únicas ligadas a secretarias da Fazenda. Pela legislação em vigor, cada área do SUS deve ter uma conta específica, fiscalizada pelos Conselhos Estaduais de Saúde, sob gestão da Secretaria da Saúde do estado.

O primeiro caso a ser descoberto foi o do Distrito Federal, em março de 2009, graças a uma análise preliminar nas contas do setor de farmácia básica, foco original das auditorias. No DF, havia acúmulo de recursos repassados pelo Ministério da Saúde desde 2006, ainda nas gestões dos governadores Joaquim Roriz, então do PMDB, e Maria de Lourdes Abadia, do PSDB. No governo do DEM, em vez de investir o dinheiro do SUS no sistema de atendimento, o ex-secretário da Saúde local Augusto Carvalho aplicou tudo em Certificados de Depósitos Bancários (CDBs). Em março do ano passado, essa aplicação somava 238,4 milhões de reais. Parte desse dinheiro, segundo investiga o Ministério Público Federal, pode ter sido usada no megaesquema de corrupção que resultou no afastamento e na prisão do governador José Roberto Arruda.

Essa constatação deixou em alerta o Ministério da Saúde. As demais equipes do Denasus, até então orientadas a analisar somente as contas dos anos 2006 e 2007, passaram a vasculhar os repasses federais do SUS feitos até 2009. Nem sempre com sucesso. De acordo com os relatórios, em alguns estados como São Paulo e Minas os dados de aplicação de recursos do SUS entre 2008 e 2009 não foram disponibilizados aos auditores, embora se tenha constatado o uso do expediente nos dois primeiros anos auditados (2006-2007). Na auditoria feita nas contas mineiras, o Denasus detectou, em valores de dezembro de 2007, mais de 130 milhões de reais do SUS em aplicações financeiras.

O Rio Grande do Sul foi o último estado a ser auditado, após um adiamento de dois meses solicitado pelo secretário da Saúde da governadora tucana Yeda Crusius, Osmar Terra, do PMDB, mesmo partido do ministro Temporão. Terra alegou dificuldades para enviar os dados porque o estado enfrentava a epidemia de gripe suína. Em agosto, quando a equipe do Denasus finalmente desembarcou em Porto Alegre, o secretário negou-se, de acordo com os auditores, a fornecer as informações. Não permitiu sequer o protocolo na Secretaria da Saúde do ofício de apresentação da equipe. A direção do órgão precisou recorrer ao Ministério Público Federal para descobrir que o governo estadual havia retido 164,7 milhões de recursos do SUS em aplicações financeiras até junho de 2009. O dinheiro, represado nas contas do governo estadual, serviu para incrementar o programa de déficit zero da governadora, praticamente único argumento usado por ela para se contrapor à série de escândalos de corrupção que tem enfrentado nos últimos dois anos. 

No início de fevereiro, o Conselho Estadual de Saúde gaúcho decidiu acionar o Ministério Público Federal, o Tribunal de Contas do Estado e a Assembleia Legislativa para apurar o destino tomado pelo dinheiro do SUS desde 2006. Ainda segundo o relatório, em 2007 o governo do Rio Grande do Sul, estado afetado atualmente por um surto de dengue, destinou apenas 0,29% dos recursos para a vigilância sanitária. Na outra ponta, incrivelmente, a vigilância epidemiológica recebeu, ao longo do mesmo ano, exatos 400 reais do Tesouro estadual. No caso da assistência farmacêutica, a situação ainda é pior: o setor não recebeu um único centavo entre 2006 e 2007, conforme apuraram os auditores do Denasus.

Com exceção do DF, onde a maioria das aplicações com dinheiro do SUS foi feita com recursos de assistência farmacêutica, a maior parte dos recursos retidos em São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul diz respeito às áreas de vigilância epidemiológica e sanitária, aí incluído o programa de combate à Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). Mas também há dinheiro do SUS no mercado financeiro desses três estados que deveria ter sido utilizado em programas de gestão de saúde e capacitação de profissionais do setor. Informado sobre o teor das auditorias do Denasus, em 15 de fevereiro, o presidente do Conselho Nacional de Saúde, Francisco Batista Júnior, colocou o assunto em pauta, em Brasília, na terça-feira 23. Antes, pediu à Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde, à qual o Denasus é subordinado, para repassar o teor das auditorias, em arquivo eletrônico, para todos os 48 conselheiros nacionais. Júnior quer que o Ministério da Saúde puna os gestores que investiram dinheiro do SUS no mercado financeiro de forma irregular. "Tem muita coisa errada mesmo."

No caso de São Paulo, a descoberta dos auditores desmonta um discurso muito caro ao governador José Serra, virtual candidato do PSDB à Presidência da República, que costuma vender a imagem de ter sido o mais pródigo dos ministros da Saúde do País, cargo ocupa-do por ele entre 1998 e 2000, durante o governo Fernando Henrique Cardoso. Segundo dados da auditoria do Denasus, dos 77,8 milhões de reais do SUS aplicados no mercado financeiro paulista, 39,1 milhões deveriam ter sido destinados a programas de assistência farmacêutica, 12,2 milhões a programas de gestão, 15,7 milhões à vigilância epidemiológica e 7,7 milhões ao combate a DST/Aids, entre outros programas. Ainda em São Paulo, o Denasus constatou que os recursos federais do SUS, tanto os repassados pelo governo federal como os que tratam da Emenda nº 29, são movimentados na Conta Única do Estado, controlada pela Secretaria da Fazenda.

Os valores são transferidos imediatamente para a conta, depois de depositados pelo ministério e pelo Fundo Nacional de Saúde (FNS), por meio de Transferência Eletrônica de Dados (TED). "O problema da saúde pública (em São Paulo) não é falta de recursos financeiros, e, sim, de bons gerentes", registraram os auditores. Pelos cálculos do Ministério da Saúde, o governo paulista deixou de aplicar na saúde, apenas nos dois exercícios analisados, um total de 2,1 bilhões de reais. Destes, 1 bilhão, em 2006, e 1,1 bilhão, em 2007. Apesar de tudo, Alckmin e Serra tiveram as contas aprovadas pelo Tribunal de Contas do Estado. O mesmo fenômeno repetiu-se nas demais unidades onde se constatou o uso de dinheiro do SUS no mercado financeiro. 

No mesmo período, Minas Gerais deixou de aplicar 2,2 bilhões de reais, segundo o Denasus. No Rio Grande do Sul, o prejuízo foi estimado em 2 bilhões de reais. CartaCapital solicitou esclarecimentos às secretarias da Saúde do Distrito Federal, de São Paulo, de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul. Em Brasília, em meio a uma epidemia de dengue com mais de 1,5 mil casos confirmados no fim de fevereiro, o secretário da Saúde do DF, Joaquim Carlos Barros Neto, decidiu botar a mão no caixa. Oriundo dos quadros técnicos da secretaria, ele foi indicado em dezembro de 2009, ainda por Arruda, para assumir um cargo que ninguém mais queria na capital federal. Há 15 dias, criou uma comissão técnica para, segundo ele, garantir a destinação correta do dinheiro do SUS para as áreas originalmente definidas. "Vamos gastar esse dinheiro todo e da forma correta", afirma Barros Neto. "Não sei por que esses recursos foram colocados no mercado financeiro."

O secretário da Saúde do Rio Grande do Sul, Osmar Terra, afirma jamais ter negado atendimento ou acesso à documentação solicitada pelo Denasus. Segundo Terra, foram os técnicos do Ministério da Saúde que se recusaram a esperar o fim do combate à gripe suí-na no estado e se apressaram na auditoria. Mesmo assim, garante, a equipe de auditores foi recebida na Secretaria Estadual da Saúde. De acordo com ele, o valor aplicado no mercado financeiro encontrado pelos auditores, em 2009, é um "retrato do momento" e nada tem a ver com o fluxo de caixa da secretaria. Terra acusa o diretor do Denasus, Luís Bolzan, de ser militante político do PT e, por isso, usar as auditorias para fazer oposição ao governo. "Neste ano de eleição, vai ser daí para baixo", avalia.

Em nota enviada à redação, a Secretaria da Saúde de Minas Gerais afirma estar regularmente em dia com os instrumentos de planejamento do SUS. De acordo com o texto, todos os recursos investidos no setor são acompanhados e fiscalizados por controle social. A aplicação de recursos do SUS no mercado financeiro, diz a nota, é um expediente "de ordem legal e do necessário bom gerenciamento do recurso público". Lembra que os recursos de portarias e convênios federais têm a obrigatoriedade legal da aplicação no mercado financeiro dos recursos momentaneamente disponíveis.

Também por meio de uma nota, a Secretaria da Saúde de São Paulo refuta todas as afirmações constantes do relatório do Denasus. Segundo o texto, ao contrário do que dizem os auditores, o Conselho Estadual da Saúde fiscaliza e acompanha a execução orçamentária e financeira da saúde no estado por meio da Comissão de Orçamento e Finanças. Também afirma ser a secretaria a gestora dos recursos da Saúde. Quanto ao investimento dos recursos financeiros, a secretaria alega cumprir a lei, além das recomendações do Tribunal de Contas do Estado. "As aplicações são referentes a recursos não utilizados de imediato e que ficariam parados em conta corrente bancária." A secretaria também garante ter dado acesso ao Denasus a todos os documentos disponíveis no momento da auditoria.

Fonte: Carta Capital

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A NEGLIGÊNCIA DOS PATRÕES E AS MORTES DOS TRABALHADORES

Os números divulgados pela Previdência Social sobre acidentes de trabalho são alarmantes. Ao invés de diminuir a quantidade de acidentes, a cada ano eles aumentam consideravelmente. Segundo artigo publicado no jornal Folha de São Paulo, entre 2003 e 2008 ocorreram 3,4 milhões (dados da Previdência Social). Destes, 16.700 resultaram em mortes de trabalhadores e 499 mil em casos de doenças. O custo financeiro alcançou a marca de R$ 72,7 bilhões, sendo que as empresas pagaram R$ 41,9 bi, e o saldo restante, R$ 30,8 bi, ficou por conta da Previdência Social.

O tratamento que grande parte dos empregadores está dando aos seus funcionários é nada mais que descaso. Estas pessoas estão interessadas apenas nos lucros que seus negócios vão proporcionar e sequer refletem acerca da responsabilidade social que possuem e todas as questões que advém disso.

Segurança no trabalho, proporcionando um ambiente físico e psíquico adequado ao desenvolvimento das funções laborais exigidas por cada atividade é dever e não benesse dos patrões. Os trabalhadores estão morrendo ou tornado-se inválidos para atuação no mercado de trabalho de forma assustadoramente crescente.

Voltando-nos para o lado material do tema, estes acidentes são os responsáveis por inflar a Previdência Social, que é pública, tornando-a cada vez mais inviável. Nada mais correto do que as empresas que não investem em proteção e saúde dos trabalhadores, pagarem pela sua omissão.

O que não se pode permitir é que continue a indiferença de uma parcela considerável do empresariado com a segurança no trabalho. A ganância de muitos empregadores que visam apenas o lucro, eximindo-se de suas responsabilidades, deve ser combatida sim, da única forma que por eles é compreendida, atingindo seus bolsos.

Em vigor desde o início de janeiro, as novas regras para o cálculo de contribuição a título de seguro acidentes do trabalho, estabelecidas pelo Decreto nº 6.957/2009, estão sofrendo uma forte campanha movida por entidades patronais para derrubá-las.

Empresa, indústrias e entidades representativas estão obtendo liminares na Justiça para escapar das regras. Segundo eles os dados fornecidos pelo Ministério da Previdência Social para a realização dos cálculos são incompletos.

Pelas novas regras, empresas e setores contribuem mensalmente com 1%, 2% e 3% sobre as folhas de salários. Sobre essas alíquotas, há o multiplicador chamado Fundo Acidentário de Prevenção (FAP) que varia de 0,5 a 2. A contribuição é maior para as empresas e setores onde a ocorrência de doenças ou acidentes for maior. Onde essa ocorrência é reduzida, a contribuição diminui.

A questão é que estas novas regras foram elaboradas nos últimos anos com a participação de centrais sindicais e de dirigentes de entidades patronais. De acordo com o Ministério da Previdência, o uso do FAP era para ter entrado em vigor em 2003, o que não aconteceu em razão das discussões sobre a metodologia de aplicação, agora concluídas.

A Central Única dos Trabalhadores (CUT) já manifestou que entrará com uma ação em defesa das regras junto ao STF. Para a entidade, as empresas precisam ter em mente que ao adotarem medidas que melhorem o ambiente de trabalho pagarão menos daqui para frente.
Os empresários conscientes de seus papéis serão compensados com a diminuição em contribuição para o seguro acidente e consequentemente, este será o caminho para a diminuição de mortes, doenças e invalidez no trabalho.


Porto Alegre/RS - Rua Andrade Neves, 155 - 11º andar –
Fone (51) 3284-8300

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

DESABAFO DE UMA PROFESSORA

Não é de hoje que o Estado tem falta de professores, mas temos todos bons motivos para preocupação neste início de ano letivo.

Vejam o desabafo da professora Nina Antonioli, que vou reproduzir porque, ao contrário de outros funcionários públicos temerosos de retaliação, ela se identificou:

“Sou Nina, professora do estado e gostaria de comentar algo que poderia ser assunto no teu blogue. Nunca pensei que um dia fosse escrever sobre isso, que é a questão de falta de professores no estado. Um problema meio batido, mas que só agora vi o tamanho do “buraco”, pois estou tentando uma licença de qualificação profissional para fazer o mestrado.

Todas as vezes que fui à Secretaria de Educação para pedir documentação necessária para entrar com o processo de licença (licença que eu tenho direito, está garantida por lei e mantem o meu salário, porque é para fazer um curso de qualificação na área que eu atuo) o que ouvi é: “não vão te liberar porque não tem professor para colocar nas escolas“. Na minha escola, por exemplo, que é um escola bem pequena, vai faltar professor de português, com ou sem a minha licença.

Há três anos eu era convocada por mais horas, em função de falta de professores. Tive alunas, por exemplo, que vinham da Lomba do Pinheiro ter aulas; elas tinham sido transferidas para a nossa escola no meio do ano, em agosto. Desde março elas estavam sem professor de português, na outra escola. Quer dizer, minha escola, que é na região central, é “privilegiada”, pois as escolas de periferia estão em situação ainda pior.

O que o Governo faz para resolver isso é contratar professores, o regime é contrato emergencial. O contrato é um problema sério, porque é um dispositivo que serve para recrutar professores para resolver emergências, ou seja, cobrir licenças — aquelas que eu disse que não estão concedendo. O contrato deve cobrir as licenças saúde, gestante, de qualificação profissional (a que eu busco) e a interesse. É ilegal o professor contratado substituir uma vaga que deveria ser exercida por um professor nomeado em concurso sem licença alguma (para se ter uma ideia, na Prefeitura de Porto Alegre, por exemplo, já há processos para que haja urgentemente um concurso para médicos, em função da mesma lei).

Se tu fores a três escolas aleatórias e perguntares quantos professores são nomeados e quantos são contratados, vais ouvir como resposta, pelo menos, 50%/50% — com exceção de colégios grandes como o Instituto de Educação ou Júlio de Castilhos, que mesmo assim, têm um alto número de contratos. Além disso, o professor contratado não presta prova para ingressar no Estado, trabalha em 3, 4 escolas, não consegue participar de reuniões e não têm direito a licença saúde, a menos que seja gestante (quer dizer, direito tem, mas depois de uma licença saúde, os contratados são mandados embora, ou sofrem uma pressão para “não adoecer mais”).

Não entendo como o Governo tem coragem de dizer que a Educação no Estado melhorou em torno de 100% nos últimos três anos, de acordo com dados na propaganda veiculada pelo próprio Estado.

A governadora diz que atualmente há mais inativos (pensionistas) do que ativos, entre os professores e isso é um problema. Há mais inativos porque não há concurso público que dê conta do número de ativos necessários dentro de uma escola.

Será que essa questão de falta de professores pode ser uma boa ideia de comentário?

Bem, hoje me dei conta de que às vezes a gente só vê a dimensão do problema quando faz parte dele. Que tristeza ver em que nível a situação chegou, em relação à educação!
Nina”

Fonte: Blog Rosane de Oliveira

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

BRADESCO DE RIO PRETO CONDENADO EM R$ 200 MIL POR DANOS MORAIS



A vendedora de seguros, consórcios e capitalização C. M.R, de Rio Preto, conseguiu na Justiça do Trabalho a condenação do Bradesco Vida e Previdência e do banco Bradesco por danos morais, fraudes trabalhistas e má-fé.

C.M.R era ofendida e humilhada publicamente pela chefe, S.D.P.

A sentença do juiz Marcelo Chaim Chohfi condenou as empresas no valor total de R$ 200 mil. A quantia representa indenização por danos morais sofridos por ela no interior da agência, indenização por fraudes trabalhistas e multa por litigância de má-fé durante o processo, já que as empresas teriam mentido e obrigado outros funcionários a mentir.

“O fato mais grave foi o assédio moral que ela sofreu no trabalho e que a deixou psicologicamente fragilizada, a ponto de necessitar de tratamento psiquiátrico”, disse no sábado a advogada de C., Valéria Rita de Mello. “Desde que entrou no banco, a chefe dela dizia para todos ouvirem que não gostava da cara dela, que tinha cara de morta, que chorava demais, e quando ficou doente a chefe disse para ir morrer em casa”, afirmou a advogada. “Ao saber que a funcionária estava grávida, a chefe ainda a chamou de vagabunda e morfética.”

A advogada diz que é muito difícil comprovar assédio moral. “Mas acredito que o juiz se convenceu do sofrimento da funcionária só por observá-la na audiência.”

C. M. R trabalhou sem registro de maio de 2006 a outubro de 2008, quando engravidou. Segundo a sentença, a natureza do trabalho, a subordinação da funcionária aos chefes e as atribuições caracterizavam vínculo que as empresas burlaram ao contratá-la como autônoma.

“As ofensas da chefe continham tal agressividade que até as testemunhas do banco admitiram que C. chegou a vomitar na agência em um dos episódios.”

As mentiras das testemunhas terão consequência, como afirma o juiz: “As empresas trouxeram testemunhas para faltar com a verdade e reproduzir versões padronizadas, em novo desrespeito, agora à dignidade destas testemunhas, que se viram constrangidas a mentir em juízo e se sujeitarão à apuração do crime de falso testemunho.”

Só 5% das vítimas abrem ação contra assédioApenas 5% das vítimas de assédio moral no trabalho denunciam o crime à Justiça. Isto quer dizer que de cada 100 casos só cinco viram processos para punir os agressores e exigir indenização deles.

A estatística quase insignificante tem algumas justificativas, segundo a advogada Cinthia Sotelo Pião, de um escritório de advocacia rio-pretense especializado em ações trabalhistas.

“Muitos desconhecem que as humilhações praticadas por chefes e patrões representam crime. E outros temem que ao denunciar um patrão ou uma empresa estejam, com isso, fechando as portas de todas as outras empresas aonde forem buscar trabalho.” Outro problema é a dificuldade de caracterizar as consequências do crime.

“Como é que uma vítima vai demonstrar o sofrimento, quantificar a dor causada por esse comportamento?”

A definição técnica de assédio moral é a exposição do trabalhador a situações humilhantes, constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício das funções. Um curto período ou ação isolada não caracteriza assédio.

Segundo a advogada Valéria Rita, que representa a funcionária do Bradesco C.M.R., o assédio moral se confirma pela conduta dos superiores que instalam clima de terror, promovem perseguição, estabelecem tarefas impossíveis, prazos exíguos, deslocamento da mesa de trabalho para local isolado, rebaixamento de funções, boatos, críticas insistentes e deboches.

A violência moral no trabalho constitui um fenômeno internacional, afirma a OMT (Organização Mundial do Trabalho).

Da mesma forma que é difícil caracterizar o crime, é preciso analisar se o funcionário vítima reúne elementos suficientes para a abertura de um processo judicial.

“O advogado tem de ter muita sensibilidade para identificar esses casos reais de violência e humilhação e também perceber se a denúncia não passa de mera tentativa de vingança do empregado contra chefes.”

Banco evita falar sobre o assunto . A assessoria de imprensa do Bradesco informou que não vai se manifestar sobre a condenação das duas empresas em Rio Preto porque ainda cabe recurso da decisão. “E o banco vai apelar”, afirmou a assessoria.

Chefe negaNa audiência realizada dia 14 de dezembro na 3ª Vara do Trabalho de Rio Preto, a securitária S.D.P., acusada de assédio moral contra C.M.R, negou as acusações. Afirmou ao juiz Marcelo Chohfi que nunca teve problemas de relacionamento com C. e que nunca tratou funcionários de forma ríspida. Disse ainda que C. até desabafou com ela sobre problemas pessoais. S.D.P. afirmou que deu conselhos e apoio à funcionária.

Fonte: Julio Cezar Garcia - Ag. BOM DIA

O INIMIGO DA REPÚBLICA ( 2 ) : A CORRUPÇÃO

A corrupção continua, porém, sendo um tema republicano - só que com outro sentido, outro conteúdo. Ela ainda é o grande perigo para a república. Como esta valoriza o bem comum, todo desvio dele para o particular a ameaça. Mas nossa ideia de corrupção é mais fraca que a antiga.

Chamamos de corrupção o furto do património público. Ora, isso faz esquecer que o bem público tem natureza distinta do bem particular ou da propriedade privada. Muitos se referem ao Estado como se fosse equivalente a um indivíduo ou empresa. Com isso, ficam na perspectiva patrimonialista, cujos problemas vimos no capítulo anterior.

Uma saída para a pouca importância, hoje, do tema da corrupção seria apostar na educação. Diríamos: a corrupção ameaça a república, mas não se resume no furto do dinheiro público. O corrupto impede que esse dinheiro vá para a saúde, a educação, o transporte, e assim produz morte, ignorância, crimes em cascata. Mais que tudo: perturba o elo social básico que é a confiança no outro. Quem anda por nossas ruas, com medo até de crianças pequenas, e depois se espanta com a descontração das pessoas em outros países pode sentir o preço que pagamos por não vivermos numa república - por termos um regime que é republicano só de nome.

A saída educativa é indispensável. Mas ela exige dar à educação dos costumes um sentido distinto do que teve no antigo pensamento republicano. Não se trata mais de conter a sexualidade, de promover a castidade e a discrição. Os costumes viáveis, a educação desejável em nosso tempo têm a ver com a realização pessoal. Será preciso combinar essa promoção de si com o respeito devido ao outro. E será necessário, mais que tudo, recuperar - ou reinventar - a ideia de que haja algo, no espaço comum a todos, que seja mais do que um simples arremedo social da propriedade privada.

Fonte: Renato Janine Ribeiro - filosofo

O INIMIGO DA REPÚBLICA : A CORRUPÇÃO

Caro leitores deste blog:

Os últimos acontecimentos na área da saúde em ijui tem me levado a refletir sobre certos textos e comentários que tenho escritos ultimamente sobre o secretario de saúde Osmar Terra. As vezes chegava a me perguntar se os meus comentários não seriam fruto de uma má vontade ou algum preconceito contra a sua pessoa. Estas duvidas são normais a todos seres humanos que pregam e possuem certas virtudes e ensinamentos que muitas vezes não vêem de bancos escolares mas sim de ensinamentos familiares, de berço.

Porem e indimissivel que uma administração fique com dinheiro no banco rendendo juros enquanto uma população enorme que pagam seus impostos fiquem expostos como se encontram hoje a população da nossa querida cidade de ijui.



Cabe aqui lembrar que em textos anteriores aqui neste espaço eu já vinha pregando que não era mais possível se permitir que este senhor permanecesse em frente a secretaria de saúde, hoje mas do que nunca seria necessário o seu afastamento do cargo para que se apurasse onde se encontra os valores que deveriam estar sendo investidos em serviços de saúde e vigilância sanitária.

O titulo acima O INIMIGO DA REPUBLICA: A CORRUPÇÃO e o nome do livro escrito pelo filosofo Renato Janine Ribeiro que trata a corrupção com uma nova visão, julquei de fundamental importância neste momento reproduzir parte da sinopse do lançamento do livro veja abaixo:

Qual a sua ideia de corrupção? É quase certo que você fale em desvio, por um administrador desonesto, do dinheiro público. É a ideia que se firmou hoje em dia. Mas, antes disso, a corrupção era termo mais abrangente, designando a degradação dos costumes em geral.

Como a corrupção veio a se confinar no furto do bem comum? Talvez seja porque, numa sociedade capitalista, o bem e o mal, a legalidade e o crime acabam referidos à propriedade. Por analogia com a propriedade privada, o bem comum é entendido como propriedade coletiva - e até como bem condominial, aquele do qual cada um tem uma parcela, uma cota, uma ação.

Mas o bem comum é diferente, por natureza, do bem privado. No estatuto de uma sociedade comercial, é obrigatório incluir o destino a dar aos bens, caso ela se dissolva. Se constituo uma firma com um sócio, caso a fechemos repartiremos os bens que pertencem a ela. Mas isso é impossível quando se trata da coisa pública. Há certos "bens" que só ela produz e que não podem ser divididos: virtudes, direitos e uma socialização que não só respeita o outro como enriquece, humanamente, a nós mesmos.

Pensar o mau político como corrupto e, portanto, como ladrão simplifica demais as coisas. É sinal de que não se entende o que é a vida em sociedade. O corrupto não furta apenas: ao desviar dinheiro, ele mata gente. Mais que isso, ele elimina a confiança de um no outro, que talvez seja o maior bem público. A indignação hoje tão difundida com a corrupção, no Brasil, tem esse vício enorme: reduzindo tudo a roubo (do "nosso dinheiro"), a mídia ignora - e faz ignorar - o que é a confiança, o que é o elo social, o que é a vida republicana.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A DENGUE , O SECRETÁRIO , E O MOSQUITO

      





Iniciará hoje uma força -tarefa que tentará deter a dengue em Ijui. De 11 casos analisados 7 foram confirmados. O secretário Osmar Terra (Medico) já deu o diagnóstico : surto epidémico, e como excelente profissional que é já recomendou o tratamento: "Na luta para evitar a propagação da doença, bombas costais e unidades de pulverização "PESADA" serão encaminhadas ao município, além de 20 técnicos da secretaria. O objetivo é mapear a situação e iniciar a ação contra o mosquito".

Participarão da força tarefa prefeitura, Defesa Civil, Brigada Militar e Secretaria Estadual de Saúde. Segundo o secretario, todas as casas deverão ser visitadas e dedetizadas por agentes. A limpeza urbana deve ser intensificada e serão instaladas armadilhas para o mosquito nas BRs e próximo aos postos de gasolina.

Está entrevista concedida ao jornal "vazou" e tocou o horror nos "mosquitos" que se reuniram e partiram para o confronto. Veja a entrevista:

BLOG GILMAR FRANÇA - Aedes ( MOSQUITO) como vocês vêem as medidas de represálias adotadas pelo secretário Osmar Terra?

AEDES - Bem , nos fomos pego de surpresa assim como a população humana, alias tínhamos um acordo de uma parceria, ele fingia que estava fazendo a sua parte e nos fingíamos que estávamos fazendo a nossa. só que alguns companheiros mais radicais e pressionados pelas bases não concordaram com o "acordo" e saíram por a a "picar" as pessoas.

BLOG GILMAR FRANÇA - Aedes o secretario anda muito bravo será que há outros fatores que o está preocupando?

AEDES - Hora caro amigo não sejamos ingénuos este cargo de secretario e muito importante para os projetos políticos do Dr Osmar Terra.

BLOG GILMAR FRANÇA- Como Assim?

AEDES - Veja meu amigo o homem já está há quase dez anos em frente da secretária, sempre se elege mas nunca assume, foi secretario do Rigotto, agora desta senhora que está ai governando, quer dizer o cargo deve ser muito bom e também deve dar direito a muitos "CCS".

BLOG GILMAR FRANÇA- Mas ele e contra os cargos de confiança, inclusive denunciou que no Conceição tem muitos?

AEDES - Bom o homem tem seu estilo, ou seja gosta de criar "factoide" mas todo mundo sabe que há vários cargos do PMDB no grupo Conceição, tem também uma infinidade de cargos no governo do estado nas outras secretarias, além e claro do ministério da saúde que também está com o PMDB. Como tu podes ver o homem e muito ocupado, tem que controla toda a maquina partidaria, fazer politica porque este ano tem eleição e ainda cuidar de mosquito,eu particularmente acho que a tarefa de ser secretario deveria estar com um técnico,mas que sou eu? um mosquito.

BLOG GILMAR FRANÇA- Como vocês estão vendo a força tarefa?

AEDES - Olha como eu te falei tava tudo certinho, mas ai surge está denuncia do "DENASUS" do dinheiro dos programas de saude que foram depositados no mercado financeiro, crise nas emergências, faltas de leitos, de medicamentos. Bom ai não há quem aguente, e veja só de novo o estilo "factoíde": Estes hospitais não vão fechar (ULBRA) . Me ajuda meu o homem foi chamado de "pinoquio" Os hospitais estão fechados até hoje.

BLOG GILMAR FRANÇA - A força-tarefa será: prefeitura, Defesa civil, Brigada militar e secretaria estadual de saude, o que você tem a falar:

AEDES - Nos temos uma boa relação com a prefeitura, me causou estranheza o secretario falar em intensificar a limpeza urbana a cidade e limpa. O pessoal da defesa cível a gente não conhece, como também não os vê pois com as ultimas chuvas os coitados não param em lugar nenhum. Já a Brigada Militar não e para fazer armadilha para mosquito e sim prender bandido, mas como a gente nem sabe o nome do secretario de segurança tudo pode acontecer.

BLOG GILMAR FRANÇA - A força tarefa terá sucesso?

AEDES - Tomara que sim. Mas não tenho duvida que todas medidas de profilaxia e prevenção deveriam ter sido tomadas antes. Não se faz saúde sem investimento, mas como o secretario trata investimento em saúde como gasto fica difícil proteger a população desta ocorrências. Cabe lembrar também que o deficit zero desta senhora que governa o Estado e muito fácil de conseguir: Não pagando as dividas que eles tem com os hospitais e uma maneira, não investindo em prevenção e outra, não aumentando o quadro de funcionários da secretaria e outra.....

ELEIÇÕES NA ESTRADA




No segundo semestre de 2008, os repórteres Eduardo Scolese e Hudson Corrêa, da Sucursal de Brasília da Folha de S.Paulo, viajaram por 30 municípios do interior para acompanhar de perto o processo eleitoral. As cidades foram selecionadas por conta de algum tipo de singularidade nacional: enquanto uma delas era líder em políticos cassados, outra era a campeã em trabalho escravo, outra ainda a de menor renda per capita e assim por diante.

Scolese fez o roteiro Nordeste-Sudeste, a partir de Natal até Brasília, passando por Rio Grande do Norte, Paraíba, Ceará, Piauí, Bahia e Minas Gerais. Já Corrêa seguiu por Nordeste-Norte-Centro-Oeste, de Teresina para o interior do Maranhão, depois Pará, Tocantins e Mato Grosso.

Leia abaixo um trecho que fala sobre as eleições na cidade de Xambióia, no Tocantins, um dos palcos da Guerrilha do Araguaia.
*
O Palco da Guerrilha
Dois candidatos a vereador. Foram o que restou do PC do B (Partido Comunista do Brasil) em Xambioá, no Tocantins. Na década de 1970, o município foi um dos palcos da Guerrilha do Araguaia, comandada pelo partido e reprimida pelo Exército em meio à ditadura militar (1964-85).

A reportagem saiu de Curionópolis e após 330 quilômetros em estrada asfaltada com boas condições chegou a Xambioá, interessada em saber como é a eleição na cidade onde ocorreu a guerrilha, uma ferida ainda aberta na história brasileira.

Familiares de mortos e desaparecidos buscam na Justiça obrigar o governo a apresentar documentos sobre o conflito, uma tentativa de localizar onde estão enterrados os militantes mortos no embate com o Exército. Em 2004, uma equipe de peritos enviada pelo governo federal fez escavações em Xambioá procurando ossadas de guerrilheiros, mas foi um trabalho em vão.

Do mesmo PC do B da guerrilha, mas em trincheiras opostas, o assentado do Incra José Edimar Alves dos Santos, o Dida do Caçador, 41 anos, e o pedreiro Aloisio Correa Barbosa, 39 anos, postulantes ao cargo de vereador, são os únicos candidatos do partido no município localizado na região do Bico do Papagaio, ao norte de Tocantins, na divisa com o Pará e Maranhão.

Quando se observa no mapa essa região, um bico de ave é o formato que vem aos olhos, daí o nome que recebeu. Idealista, Dida disse que fundou em 2006 o PC do B de Xambioá e se candidatou para defender os trabalhadores rurais do município e da região próxima.

Aloisio foi por outro caminho. Rompeu com as legendas com as quais o PC do B se coligou. Motivo: a candidata a prefeita pelo PDT, Dagma Sousa Lopes Pires, 45 anos, líder da coligação, não pagou despesas para ele ir ao velório de um parente em Marabá em agosto passado. "Ela só quis dar R$ 50", reclama Aloisio.

Em represália, ele passou a pedir votos para a candidata de outra coligação, Ione Leite, de 68 anos, do PP, cuja família tem comandado a prefeitura nos últimos mandatos. O prefeito Richard Santiago, do PMDB, candidato à reeleição, também é da família, embora não se dê bem com Ione.

Santiago não quis falar com a reportagem. O motivo talvez seja porque a Folha foi encontrá-lo no fórum de Justiça da cidade justamente no dia em que ele tinha audiência para responder ação judicial. Santiago chegou cumprimentando todo mundo que estava no fórum, mas não quis saber de falar com o repórter, quando este se identificou.

- Sou da Folha de S.Paulo e estou fazendo uma matéria sobre eleições nos municípios do país. O senhor pode conversar comigo?

- Me procure na prefeitura.

- Mas eu preciso falar com o senhor ainda hoje. A que horas posso procurá-lo?

O prefeito não responde e nem olha na cara do interlocutor. Em seguida entra na sala de audiência para ser ouvido no processo judicial.

Ao meio-dia em Xambioá, o sol queima o ânimo da cidade. As ruas praticamente não têm árvores para oferecer uma sombra aos seus moradores e visitantes. Os xambioaenses dizem que o prefeito mandou cortá-las em um acesso de mau humor, talvez semelhante ao que o repórter experimentou.

O prefeito, porém, pouco passa a interessar quando a reportagem descobre que existem apenas dois candidatos pelo PC do B. Resta então encontrá-los, mas Dida não está na cidade.

Para chegar a ele no assentamento Caçador será preciso percorrer 40 quilômetros de estrada precária, sem asfalto, passando por trechos arenosos e cheios de pedras, vencendo subidas em que o carro só vai com a primeira marcha até um ponto onde nem camionete com tração consegue prosseguir. Então, será necessário caminhar mais de um quilômetro até a casa de Dida. É perto.

O ônibus escolar também só chega até o ponto cheio de pedras. Depois disso, os estudantes têm que ir mais longe. Caminham até três horas no meio da mata, à noite, para alcançar suas casas no assentamento criado há dez anos.

Iracema Barros Silva, 49 anos, mulher de Dida, que serviu como guia na viagem até o assentamento, diz que "a guerrilha" atualmente "é sobreviver no assentamento".

A reportagem encontra Dida assistindo à TV Senado, graças à antena parabólica. Ele vê um pronunciamento ao vivo do senador Mão Santa, do PMDB do Piauí. "Eu gosto de ouvir esse homem. Ele chama o pessoal de Lula de aloprado", comenta rindo e com ar de divertimento.

Sem recursos para fazer campanha, Dida diz que visita de moto seus colegas de assentamento. "Sem dinheiro não é fácil pleitear numa eleição com a corrupção que tem o nosso país. Mas acho que a dignidade ainda prevalece. O povo está vendo a necessidade de ter um representante da classe da gente. Viram que essas pessoas que têm dinheiro se elegem e aí acabou", afirma.

Sobre sua opção pelo PC do B, conta que "quando era criança, na época da guerrilha, tinha medo daqueles helicópteros do Exército passando". Desde então, "eu dizia: quando tiver uma oportunidade, vou me filiar ao partido e ser militante, levantar a bandeira".

Já no fim de tarde, é hora de voltar a Xambioá. No dia seguinte, será a vez de ouvir o outro candidato.

Na outra ponta do PC do B, Aloisio recebe a reportagem entre as mesas vazias de vereadores na Câmara Municipal. Diz que era soldado do Exército em Marabá onde ouvia falar da guerrilha. Conta ainda que, em 1992, negou-se a servir café a um general, "puxou cadeia" e saiu do Exército.

Em Xambioá, onde veio passar férias, interessou-se "pela bandeira do partido" e defendeu a criação de um memorial da guerrilha do Araguaia. Pela primeira vez candidato em uma eleição, anuncia que sofreu uma decepção.

"Eu estava com uma [candidata a] prefeita que se desfez de mim; coisa que eu não gosto. Foi a Dagma. Eu estava coligado com o partido dela. Meu sobrinho morreu de tiro, em Marabá. Fui falar com ela. Não me deu atenção", diz Aloisio. "Como vou ficar do lado de uma mulher dessa? Aí, ela queria me dar R$ 50. Peguei e devolvi para ela. Se não tinha dinheiro, tinha um carro lá, tinha gasolina", afirmou.

Dagma, a candidata a prefeita, afirma que "o PC do B está envergonhado. Aloisio queria dinheiro. Não estava defendendo a bandeira do partido, mas o Dida está".

Nascida em Xambioá, Dagma diz carregar a bandeira da guerrilha. "Eu era pequena. Meu pai pescava e fornecia peixe ao pessoal do Exército. Tive contato com a maioria dos ditos terroristas. Pessoas muito inteligentes. Teve um médico que salvou a vida do meu irmão", recorda-se.

Conflito armado com a ditadura militar, a guerrilha do Araguaia foi de 1972 a 1975 e resultou na morte de guerrilheiros e militares do Exército. Fala-se em 59 mortes de militantes e em 16, de soldados, mas os números variam em diversas publicações na imprensa.

Os feirantes Manoel Simplício de Souza, 62 anos, e Henrique Gonzaga Ruiz, 72 anos, há 20 anos trabalhando na rua de Xambioá, dizem que atualmente a guerrilha não é assunto da cidade.

As ruas do centro de Xambioá vão todas em direção ao rio Araguaia, às margens da qual está a cidade. É ali, à tarde, que grupos de mulheres lavam roupas e homens preparam a rede para a pesca.

A reportagem atravessa o rio. Na outra margem já é o Pará novamente, de onde o repórter veio. O motivo do retorno é conhecer o museu da Guerrilha do Araguaia, na cidade paraense de São Geraldo do Araguaia. Trata-se apenas de um barraco de madeira, numa área tomada por mato, abandonado pelo poder público.

O dono do acervo, Eduardo Lemos Porto, 42 anos, diz que sofre ameaças de políticos e policiais da região por manter o museu com dados dos guerrilheiros.

Já na cidade vizinha de Xambioá, sem museu, os candidatos em campanha eleitoral defendiam a criação de um memorial da guerrilha.

São Geraldo do Araguaia também foi um dos palcos do movimento armado contra a ditadura militar do início da década de 1970 e, por isso, a reportagem visita o museu criado em 1995 na cidade.

Porto se esforça para mostrar os painéis, empilhados uns sobre os outros na parede do museu, com fotos e legendas que contam a história da guerrilha e dos desaparecidos no confronto.

Ele também disse saber onde os corpos dos guerrilheiros estão enterrados, mas afirma que só revelará se receber dinheiro. Não quis, porém, dar um preço à informação.

Além das fotos, ele tem outras peças, não só da guerrilha. O acervo inclui até animais empalhados e cobras sucuris mantidas em formol. Tudo amontoado, coberto por poeira.

Ele mostra o acervo ao lado de dois estudantes. Os meninos o alertam com olhar e gestos que também Porto, e não só o acervo, está sendo fotografado pelo repórter. A intenção de tirar o retrato do dono do museu é apenas uma finalidade jornalística, ou seja, mostrar o personagem. Para os meninos, porém, pode parecer ainda coisa de espionagem e de repressão relacionada à guerrilha.
*
Em março de 2007, o Ministério Público Estadual fez um acordo com a prefeitura de São Geraldo do Araguaia para tombamento do museu. Segundo Porto, até hoje o acordo não foi cumprido.
*
De Xambioá, a reportagem segue para Aragominas, ainda dentro do Estado do Tocantins.
Enquanto o município paraense de Tailândia, retratado no capítulo 15, lidera a extração de madeira, Aragominas praticamente não tem mais árvores e alternativas econômicas, conforme afirmam os dois principais candidatos a prefeito.

A campanha eleitoral por lá está concentrada nos sete assentamentos rurais do município, onde as matas foram devastadas e moradores dizem ter saudades das florestas de pau-brasil. Os candidatos a prefeito culpam pela devastação os assentados, que vivem na região há pouco mais de dez anos.

Os assentamentos abrigam cerca de 3.000 pessoas, ou seja, 55% da população do município. Aragominas perdeu com o desmatamento quase toda a sua área de floresta. Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente, de 1.150 quilômetros quadrados de floresta original restaram apenas 174 quilômetros quadrados, ou seja, só 15%.

Com isso, Aragominas estava no topo do ranking dos municípios com maior área desmatada em relação ao seu tamanho. Esse foi o dado que atraiu a reportagem até lá.

A posição é desagradável para quem vive do aproveitamento da madeira na cidade. O marceneiro Elimar Sá Nascimento, 33 anos, pode ser encontrado de braços cruzados na marcenaria onde trabalha em plena segunda-feira. "Aqui o problema é falta de madeira para trabalhar", lamenta.

Os candidatos a prefeito responsabilizam os assentados, mas dizem que os trabalhadores rurais não tinham alternativas.

"A situação do assentado é muito difícil. O apoio [do governo federal] não chegou ao que eles precisavam. Então, o que fez retirar a madeira, essa devastação, foi a própria necessidade dos assentados para comer, tratar da família", diz o candidato Antonio Mota, 54 anos, do PR. Ele foi prefeito de 2001 a 2004.

"O nosso município está praticamente todo desmatado. Na região dos assentamentos tinha muito pau-brasil. Era uma área de muita reserva [florestal]. O governo podia ter segurado essas áreas para preservação", diz o prefeito Divino Pereira da Silva, 51 anos, conhecido como Rozico, filiado ao PMDB, que disputa a reeleição. Ele foi o primeiro prefeito do município, instalado em 1993.

"A solução é correr atrás de recursos federais, trabalhar em cima da agricultura familiar. Se não acontecer isso, daqui a cinco anos não tem ninguém mais morando lá. É muito sofrida a vida dos assentados. Quarenta por cento deles não têm água", diz Rozico.

Mota e Rozico dizem ainda que a campanha é baseada no corpo a corpo nos assentamentos onde ocorrem comícios à noite. Há tensões que a reportagem não pode constatar porque tinha que partir no dia seguinte a outro município.

Rozico conta que as eleições "são quentes" na cidade, apesar de o município ter somente 4.621 eleitores.

"De vez em quando, tentam me pegar nesses caminhos dos assentamentos [rurais do município]. Aí preciso dar uns tiros para o alto", diz Rozico, caindo na risada.
- E Rozico tem porte de arma?

- Que nada, [é revólver] clandestino mesmo - admite gargalhando.

"O negócio aqui é quente. Na última eleição, o pronto-socorro daqui atendeu 47 feridos. No comício é bom ter uns [seguranças] com pedaço de pau para segurar", conta ainda rindo.

Chegar a essa região de embate entre os candidatos exige superar um caminho tortuoso.

É preciso sair da cidade de Aragominas, passar dois municípios situados 25 quilômetros à frente, Muricilância e Santa Fé do Araguaia, para depois pegar uma estrada de areião, percorrer 50 quilômetros e, então, atingir os primeiros assentamentos. Para encurtar a distância, sem passar por outros municípios, seria necessário abrir uma estrada dentro de Aragominas, mas a prefeitura afirma não ter dinheiro para isso.

Na sede do assentamento Reunidas, criado há mais de dez anos a partir da invasão de uma fazenda, a Justiça Eleitoral entrega, numa tarde de sábado em um posto de saúde, cerca de 300 títulos de eleitores a moradores que passarão a votar na região, ou que pela primeira vez participarão de uma eleição.

O assentado João Marques, 54 anos, que nas eleições anteriores justificou o voto, resolveu transferir o título para o assentamento.

"Assim posso cobrar o candidato em quem eu votar", afirmou. Marques diz que a região era coberta pela floresta de pau-brasil, atualmente devastada pelos próprios assentados. "Alguns faziam cerca, outros vendiam", afirma.

Reunidos em uma casa da sede do assentamento, José Justino da Silva, 87 anos, José Calixto dos Reis Soares, 65, e Francisco Djalma dos Santos, 55, dizem que demorava horas para "varar" um pequeno pedaço de floresta de pau-brasil há pouco mais de dez anos.
Os três, porém, afirmam que os assentados já encontraram a região devastada por fazendeiros no processo de abertura de pasto para os bois. Atualmente, a maior preocupação dos três é com fantasmas que, segundo eles, incomodam o sono de todo mundo.

Mesmo sem árvores e distante do centro de Aragominas, os assentamentos ainda atraem pessoas que moravam em condições piores no Pará. Roseane Soares viveu 17 dos seus 22 anos de vida na região de Pacajá, no Pará.

"No inverno, a gente chegava a ficar três dias atolada no meio da estrada", diz Roseana que transferiu o título para votar no assentamento Reunidas.
*
Aloisio e Dida do Caçador tiveram votação pouco expressiva em um universo de cerca de 9.500 eleitores. Dida conseguiu apenas 35 votos e Aloiso, quatro. O prefeito de Xambioá foi reeleito.

Em Aragominas, ganhou Mota. Embora Rozico tenha vencido no quesito bom humor.
*
"Eleições na Estrada"Autor: Eduardo Scolese e Hudson Corrêa

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Balanço do ano, por Paulo Cezar da Rosa - Colunista da Carta Capital

Aos leitores deste Blog:

Achei interessante reproduzir este texto do Paulo Cezar. Há muita coisa na coluna dele para nos ajudar a pensar a política aqui no Rio Grande. Boa leitura a todos. Mais conteúdo em:


Prezados leitores. O Daniel, meu editor neste espaço, pediu para fazer uma coluna de balanço do ano.

Confesso. Não consegui. Ou melhor: Na verdade, esta coluna é muito diferente de todas as que já escrevi neste espaço. Primeiro, porque não é uma coluna, é uma carta, quase um desabafo; segundo, porque não tenho muito o que dizer. Tenho, apenas, talvez, "à la Guimarães Rosa", algumas coisas a "desdizer".

Minha pauta na revista é tratar da cena política gaúcha. Acreditem: Não é uma tarefa fácil. Sou gaúcho, e ser gaúcho nos dias de hoje não é simples. Ser gaúcho vem se tornando todos os dias mais complicado. Analisar o cenário político é pior ainda. E, em 2010, tudo pode se tornar até mais difícil.

Todas as semanas no últimos meses tenho sido obrigado a refrear meu desejo de pedir ao Daniel para alterar minha pauta. Acordo sempre às segundas feiras desejando falar sobre o Brasil e o sucesso do governo Lula, sobre o Obama e o desafio de administrar a crise do império, sobre a América Latina e a afirmação de seu povo nos espaços públicos. Mas não. Tenho de tratar da cena gaúcha, e isso hoje é tratar da miséria da política, da pequenez, dos mais baixos instintos que quase sempre estão por detrás dos movimentos de hoje em dia no pampa.

Não. Não estou falando de ética ou de falta dela na política gaúcha. Este assunto, confesso, não é o que mais me preocupa. Penso, aliás, que o governo Lula conquistou avanços fantásticos neste terreno. "Nunca na história deste país" se viu tanto criminoso de colarinho branco tocando piano nas delegacias antes reservadas apenas aos bandidos pobres.

O problema é outro. Vivemos hoje num país que saiu da crise porque soube defender suas empresas, seu patrimônio, seu povo. Um país que aos poucos torna-se motivo de orgulho por todos lados. Ser brasileiro na Europa durante muito tempo foi sinônimo de ser trambiqueiro ou prostituta, no máximo jogador de futebol. Nos últimos anos, o país foi capaz de iniciar uma verdadeira revolução que hoje reposiciona o Brasil no mundo. O Rio Grande do Sul, não.

Também não estou falando de justiça social. Esse assunto hoje é domínio federal. E, justiça seja feita, "nunca antes na história desse país" se viu o povo sendo tão "justiçado" como está sendo agora. É Bolsa Família, Fome Zero, Minha Casa Minha Vida, salário mínimo que cresce, emprego que cresce, mais educação e até saúde. E isso, o Brasil está fazendo por todos, inclusive pelos gaúchos.

Estou falando é da falta de liderança, da incapacidade política dos gaúchos, da sua incompetência para tirar o Rio Grande da situação em que encontra. É lamentável, mas todos os indicadores são claros. O Rio Grande do Sul perdeu a onda do crescimento nacional. No Rio Grande do Sul, demos as costas a tudo o que de bom está sendo conquistado em nível nacional. Crescemos como rabo de cavalo. Para baixo, e para trás. E isso é culpa de todos os gaúchos que não conseguiram gestar nas últimas décadas lideranças capazes de enfrentar nossos problemas. Isso é culpa sua e é culpa minha. Acho que é por isso que não consegui fazer um balanço.

Quando Olívio Dutra foi governador, disseram que o problema era o PT. Tivemos quatro ano de PMDB e agora mais quatro de PSDB. Passamos quase oito anos sem o PT e o Estado só piorou. Alguns dizem agora que o problema todo é dos "serristas". O governo gaúcho, tendo a tucana Yeda Crusius à frente, está atolado na falta de ética. E esse seria o seu maior problema.... mas, acreditem, esse não é nosso maior problema.

A falta de ética na política gaúcha é apenas reflexo da mediocridade. Quando ladrões e achacadores se tornam "líderes" políticos, algo está muito mal. E o que está mal entre nós é a falta de liderança verdadeira, é a falta de política, a falta de grandeza.

Hoje, o Rio Grande do Sul está tão preso ao passado que, com tristeza e esperança, lembrei Drummond: "Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente."