Gilmar França

Gilmar França
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sábado, 29 de janeiro de 2011

Mais qualidade no ambiente de trabalho

A Organização das Nações Unidas está solicitando a todos os governos que façam gestões no sentido de que os trabalhadores possam dispor de um ambiente de trabalho saudável para desenvolver suas funções. Para isso, espera que campanhas sejam feitas a fim de sensibilizar os empresários para que eles adotem medidas preventivas e protetivas. Segundo o secretário-geral da Organização das Nações Unidas, Ban Ki-moon, a estimativa é que 60% das doenças não transmissíveis, como câncer, diabetes, problemas respiratórios e ocorrências de acidente vascular cerebral (AVC), poderiam ser evitadas com a redução dos fatores de risco. O dirigente da entidade prevê que, a se manterem as condições atuais, as ocorrências dessas patologias deverão aumentar significativamente até 2030, com maior incidência de doenças crônicas nos países da África, do Oriente Médio e do Sudeste da Ásia, onde esse aumento poderá ficar em torno de 50%.

Um outro dado trazido por Ban Ki-moon diz respeito ao fato de que essas moléstias referidas são as causas diretas da morte de um contingente em torno de 35 milhões de pessoas com idade inferior a 70 anos em todo o mundo. Em sua intervenção no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, ressaltou que isso não pode continuar acontecendo. Deixou claro que esse desafio precisa ser enfrentado com iniciativas eficazes e que os países emergentes precisam assumir suas responsabilidades. Considerou que se faz necessária uma ampla articulação entre os setores público e privado a fim de minorar os efeitos de relações de trabalho bastante precárias.

É contraditório que se possa imaginar um trabalhador que fez um grande esforço para se colocar no mercado de trabalho sem poder exercer suas funções de forma digna, arcando ainda com prejuízos para sua saúde. Além de obter uma vaga, é preciso que sua cidadania seja respeitada, pois o emprego aviltante não condiz com o que se espera de uma sociedade civilizada.

Editorial – Correio do Povo – 29/01/2011

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Hospital Universitário de Canoas

Identidade do Trabalhador em Saúde e Financiamento







Revolução tecnológica
O trabalho em saúde é multifacetado e complexo. A revolução tecnológica em andamento aponta que será ainda mais nas próximas décadas. As ações em saúde envolverão a atuação de equipes multidisciplinares conectadas face a face e por ambiente virtual. Estas equipes irão se articular com atores não humanos capazes de superar as habilidades humanas com resultados amplamente melhores em termos de eficácia em tratamento e prevenção.
Todos os profissionais terão de se reinventar. O processo histórico do surgimento das instituições hospitalares e do nascimento da clínica fez do prático barbeiro que arrancava dentes e amputava membros o ícone da união entre o poder da produção de conhecimento (a ciência) e o poder de conhecimento aplicado. Pioneiramente o saber e ação estavam, então, sintetizados na mesma figura: a do médico cirurgião. No entanto a cirurgia como operação fundada na neuromotricidade fina humana irá desaparecer nos próximos anos.
Robôs supervisionados por um novo tipo de médico cirurgião farão as intervenções cirúrgicas mais delicadas. Este novo médico será um engenheiro multicapacitado e articulado com médicos clínicos de família, assistente sociais, nutricionistas, enfermeiros e equipe técnica de formação em nível médio. A relação irá requerer que todos conheçam profundamente seus pacientes (em algumas universidades já se especula se não será melhor chamá-los de parceiros)
Equipes inteiras se encarregarão de fazer o diagnóstico e o processo será avaliado como um todo pondo em prática a transdisciplinaridade dialógica que hoje só vemos em alguns nichos de excelência e na teoria. Uma ação interdisciplinar executada de modo que as responsabilidades possam ser claramente atribuídas a cada profissional do ramo da saúde em suas diferentes fases de aplicação.
Por outro lado poderá haver fechamento de postos de trabalho em determinadas áreas e abertura de outros postos em outras áreas da nova atenção em saúde que se desenha para o transcurso do século XXI.
O entorno do paciente/usuário/parceiro será mais povoado de profissionais de inúmeras disciplinas da atenção. Seja nos consultórios, nos centros de diagnóstico, seja nas unidades básicas de saúdes, incluindo aí a rede de ESF.
Hoje o cálculo de pessoal envolvido no cuidado em saúde é feito em torno da quantidade de leitos. Com isso uma parte considerável dos trabalhadores da saúde não entra em contato com o paciente, pois se encarregam de fazer mover a máquina pesada da internação hospitalar.
O tempo médio de internações vem caindo drasticamente ao longo das últimas décadas e é por isso que muitos leitos têm sido fechados. Sua manutenção é cara e ineficiente. O tipo de leito hospitalar necessário hoje envolve uma pesada carga de tecnologia instalada para intervenções menos longas e mais eficientes. Este investimento custa caro e envolve a articulação com instituições ou setores de atendimento domiciliar e hospital dia.
Neste contexto acelerado de mudanças na indústria do cuidado vem surgindo com força no cenário um um conjunto de atores que era mal percebido pela opinião pública. O trabalhador da saúde de nível médio era visto como um ator menor e subalterno neste contexto em que os médicos eram os grandes jogadores.
Com forte espírito corporativo e tranqüilidade econômica para agir em bloco os médicos podem impor limites ao livre mercado no trabalho em saúde. A mobilização pela aprovação da Lei do Ato Médico simboliza claramente esta tentativa bem sucedida de se impor os interesses da corporação aos ditames das regras de um livre mercado de trabalho em saúde.
Com o desvelamento das relações de poder que conformam o campo do trabalho em saúde, temos a oportunidade de dar visibilidade aos fatos ocultos que permanecem sustentando a lógica do sistema. Um financiamento desigual segundo os interesses políticos e corporativos em jogo. Porém estes fatos são mantidos a margem do debate. Para ser fiel a norma constitucional é necessário dar conta da questão do financiamento e da gestão. Resumindo e sendo claro, há a necessidade de uma carreira nacional para todos os trabalhadores da saúde nos moldes que a corporação médica reivindica.
O dilema do financiamento e a qualidade da atenção
Atualmente as formas de custeio e financiamento das ações em saúde são muito diversificadas e seguem a lógica dos interesses políticos das categorias que tem mais poder de barganha ou do tráfico de influência da indústria, fornecedores de insumos e de infraestrutura.
O resultado disso é que para atender ao mesmo cidadão contribuinte temos variações de salários pagos aos Técnicos em Enfermagem entre 600 reais por mês a até 2500 reais para ficar em um exemplo apenas. Tudo depende da instituição em que se trabalha dentro do município de Porto Alegre. Um absurdo, visto que a remuneração garante parte da qualidade de vida dos trabalhadores e incide diretamente sobre a segurança do cidadão que usa o sistema de saúde pública.
Há hospitais que se sustentam apenas com o faturamento que fazem do convênio com o SUS e com os seguros privados. Outros têm a vantagem da isenção de encargos porque possuem a carta de instituição filantrópica fornecida pelo Ministério da Saúde. Ainda há as empresas de economia mista que são subsidiadas com recursos do Ministério da Educação e/ou simplesmente tem seu déficit operacional coberto pelo Ministério da Saúde.
Assim o cidadão que tem a sorte de ser cuidado em instituições bem financiadas é beneficiado pelo atendimento melhor. Por outro lado estas instituições atendem uma demanda maior que sua capacidade anulando a vantagem anterior. Já os cidadãos que se dirigem ao atendimento em instituições com financiamento deficitário sofrem o atendimento por equipes também sobrecarregadas e, além disso, mal remuneradas.
Aos trabalhadores sobra um dilema de fio duplo. Ou passam em um concurso e vão adoecer em hospitais que pagam bem, devido à sobrecarga de trabalho na atividade fim, ou trabalham em hospitais que não podem pagar melhores salários devido ao problema do financiamento. Ou seja, saem cortados de qualquer jeito.
Há dados ainda observados no cotidiano que nos informam de uma alta morbidade na pós-aposentadoria imediata, no aumento das aposentadorias por invalidez e de um trabalho realizado em constante sofrimento biopsiquico contemplando inúmeros agravos a saúde do trabalhador. Este fenômeno tem afetado desde os trabalhadores médicos que tem o melhor piso salarial do trabalho em saúde e  a carga horária mais humanizada, até os auxiliares e técnicos em manutenção e higienização de instituições hospitalares.
Essa quebra da identidade comum no trabalho em saúde originada nas dificuldades de um financiamento adequado para todas as instituições tem inviabilizado a implantação plena do SUS. O regime de contratação único e a carreira unificada em todo o país são desafios que se não forem equacionados irão acabar por ser o fator desencadeante de um retorno a privatização da saúde.
Privatização da saúde e privilégios corporativos
Os secretários de saúde têm argumentado a favor dos regimes de contratação pela CLT dizendo que não podem fazer os médicos cumprirem suas cargas horárias contratuais. Culpam as prerrogativas dos servidores públicos como sendo o que emperra o sistema. Uma chantagem cínica, para dizer o mínimo. Temos visto prefeitos de todos os partidos, inclusive petistas, acusarem os defensores do SUS de responsáveis pela privatização radical da saúde por serem contra a instauração de Fundações de Direito Privado para gerirem a saúde nos municípios.
Na verdade, querem perpetuar a tradição brasileira da casa grande e da senzala. Garantem para si e para os que tiveram a sorte de ingressarem no regime estatutário um privilégio que irá terminar junto com a aposentadoria dos atuais servidores eleitos, concursados e/ou estatutários. Desoneram os fundos municipais de aposentadoria e passam os custos para os contribuintes do regime da previdência social.
Desta forma não se toca na questão central e permanece o custeio e financiamento desigual dos conveniados ao SUS. Este modelo de financiamento desigual acarreta as imorais diferenças salariais entre trabalhadores que realizam as mesmas funções e atendem aos mesmos usuários.
Precisamos reconhecer uma dupla verdade que embora pareça excludente é, na verdade complementar: Os cerca de 160 bilhões de reais investidos ao ano pelo setor publico e complementar de saúde no Brasil, são insuficientes para atender a demanda. Porém são mais do que suficientes para serem alvo de pilhagem através da corrupção endêmica que enovela gestores, prestadores e fornecedores dos serviços e da infraestrutura de atenção em saúde.
Já vimos a derrocada do complexo de saúde da ULBRA por irregularidades que lhes custaram a perda da carta de filantropia. Ainda veremos mais instituições ruírem como a ULBRA. Em parte pela mudança da matriz tecnológica, em parte pela gestão temerária.
E cabe um alerta para deixar bem claro que o dilema financiamento versus gestão está amplamente superado. Com a mudança da matriz tecnológica o binômio não é mais excludente: Precisamos de uma nova gestão que siga os princípios, diretrizes e dispositivos da Política nacional de Humanização do SUS - PNH e aumento no financiamento.
As Sociedades Anônimas de economia mista em que o governo federal é acionista majoritário correm sérios riscos, pois seu funcionamento é sabidamente deficitário e em alguns casos subsidiado com recursos federais. É importante sublinhar que em cada uma das modalidades de financiamento é sempre o contribuinte que arca com o custo. As isenções das filantropias são cobertas por recursos da união. Em última instância dinheiro dos contribuintes/usuários.
Um caminho para a afirmação da identidade do trabalhador em saúde
A solução para a promoção da humanização da gestão, das relações de trabalho e do atendimento aos usuários passa pelo aumento significativo dos gastos com saúde. Talvez os gastos em saúde precisem dobrar para que todos os trabalhadores da saúde sejam remunerados como os do Grupo Conceição e Hospital de Clínicas, ambos federais e subsidiados no seu déficit operacional.
Este é o custo da eficiência: oferecer a todos as instituições conveniadas ao SUS o mesmo financiamento. Assim a identidade do trabalho em saúde poderá ser afirmada e legitimada em sua relevância plena para os cidadãos contribuintes.
Os que se queixam da alta carga tributária devem lembrar que temos nosso Judiciário e Ministério Público entre os mais bem pagos do mundo. Se estes instrumentos de controle democrático não conseguem fazer com que os diretores técnicos e gestores dos serviços públicos façam os servidores públicos cumprirem os contratos de trabalho não é a constituição que assegura a saúde como sendo um serviço público primordial que deve ser rasgada.

domingo, 23 de janeiro de 2011

Ministério da Saúde abre Consulta Pública sobre Diretrizes da Política Nacional de Promoção da Saúde


20/01/11
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, tornou pública para consulta, a minuta da portaria que institui as Diretrizes da Política Nacional de Promoção da Saúde do Trabalhador do SUS. Em comunicado às entidades, a equipe técnica do Departamento de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde ressalta que o intuito é “de construir ações voltadas para a promoção da saúde do trabalhador do Sistema Único de Saúde, protagonista da melhoria da situação de saúde da população e da equidade social”. Nas considerações, a portaria destaca “que a qualidade do trabalho e a promoção de saúde do trabalhador implicam também, dentre outras ações, a existência de planos de carreiras, cargos e salários; educação permanente; desprecarização dos vínculos de trabalho; cessão e provimento de profissionais; gestão compartilhada e democrática; ambientes e processos de trabalho adequados”.

A portaria considera, ainda, como estratégia para o desenvolvimento do SUS, o compromisso dos gestores e empregadores com a qualidade do trabalho e com a valorização dos trabalhadores, com formação e promoção da saúde do trabalhador, enfrentamento dos fatores de risco, universalidade na abrangência, democratização das relações de trabalho, integralidade na atenção, qualidade e humanização do trabalho, processo de negociação permanente.

Após apreciação das contribuições advindas da consulta pública, as diretrizes serão repactuadas na Mesa Nacional de Negociação Permanente do SUS - MNNP-SUS e apresentadas à Comissão Intergestores Tripartite - CIT e ao Conselho Nacional de Saúde - CNS. A minuta foi disponibilizada somente após a solução de problemas técnicos relacionados ao sistema de informação do site para consulta pública.

A equipe do DEGETS lembra que o Comitê Nacional de Promoção da Saúde do Trabalhador do Sistema Único de Saúde foi constituído pela Portaria nº 2.871, de 19 de novembro de 2009, composto por representantes da bancada dos trabalhadores da Mesa Nacional de Negociação Permanente do SUS e gestores. Um de seus objetivos é dar resposta às reivindicações e luta dos trabalhadores da saúde. Segundo a equipe, as diretrizes propostas requerem ampla divulgação a fim de que todos possam contribuir para o seu aperfeiçoamento.

A CNTS esteve representada nas discussões que originaram a proposta pelo seu primeiro vice-presidente Jânio Silva. Agora, a diretoria vai avaliar a minuta para, se for o caso, apresentar sugestões. Ele ressalta que a minuta colocada sob consulta traduz o consenso do comitê e que teve o aval da Consultoria Jurídica do Ministério da Saúde, portanto, é grande a expectativa quanto a sua aprovação. “É preciso que as diretrizes sejam aprovadas o mais breve possível para que sejam colocadas em prática, beneficiando todo trabalhador do SUS, incluindo aqueles que atuam nos setores público e privado para o Sistema”, avalia. Para Jânio Silva será importante, nesse momento da consulta, que os profissionais técnicos que lidam na área participem com sugestões no sentido de acrescentar a experiência do dia a dia ao instrumento que trata da saúde do trabalhador.

As sugestões poderão ser encaminhadas, até o dia 5 de fevereiro de 2011, ao Ministério da Saúde, Esplanada dos Ministérios, Bloco G, 7º andar, sala 751, Brasília-DF, CEP 70.058-900, com a indicação Sugestões à minuta de portaria que institui as Diretrizes da Política Nacional de Promoção da Saúde do Trabalhador do Sistema Único de Saúde,pelo e-mail comitestsus@saude.gov.br e/ou pelo sítio http://www.saude.gov.br/consultapublica. Ao acessar a página, deve-se clicar em “escolha da consulta”. Para visualizar o texto, pode-se: clicar na última coluna à direita, sob o nome de “ação”, com o ícone de uma impressora, ou entrar no item “contribuir”. Para contribuir, será necessário que o usuário faça seu cadastro no primeiro acesso. Nas vezes seguintes, bastará preencher os espaços em “usuário” e “senha” para acessar o documento. Mais informações e/ou esclarecimento de dúvidas podem ser obtidas pelos telefones 61 - 3315 3687 e 3315 3973.

Leia a íntegra da portaria com as diretrizes no site:

http://www.cnts.org.br/noticias_detalhes.php?codigo=139

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

domingo, 16 de janeiro de 2011

Milton Kempfer integra a lista de conselheiros do Piratini


O diretor-presidente da FEESSERS, Milton Kempfer, e o presidente da CUT-RS, Celso Woyciechowski, fazem parte da lista de 80 nomes destacados pelo governador Tarso Genro para integrar o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES-RS). O governador assinou, na tarde de sexta-feira (14), no Palácio Piratini, em Porto Alegre, o ato de designação. Integram a lista, representantes de diversos segmentos, entre eles, trabalhadores, empresários, produtores rurais, agricultores familiares, movimentos sociais, universidades e sindicatos, além de outras lideranças setoriais, que atuarão sem receber remuneração. Por parte do Governo, integrarão o grupo os secretários da Fazenda, Geral de Governo, do Planejamento, Gestão e Participação Popular, do Trabalho e do Desenvolvimento Social, da Ciência, Inovação, e Apoio à Micro Empresa e pelo secretário chefe da Casa Civil.

Ao destacar o grande número de pessoas interessadas em participar do Conselho, o chefe do Executivo lembrou que, "mesmo aqueles que não fazem parte da relação apresentada, podem participar do processo por meio dos Grupos Temáticos." Já o titular da Secretaria Executiva do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Marcelo Danéris, assinalou que o CDES-RS foi criado com o intuito de ser um local de amplo debate e estabelecimento de diretrizes de um programa de crescimento para o Rio Grande do Sul. "Este é um momento histórico. Um novo espaço de diálogo, trabalhando no sentido de retomar o desenvolvimento do Estado", afirmou.

Participaram do ato, os secretários geral de Governo, Estilac Xavier, de Comunicação e Inclusão Digital, Vera Spolidoro, e o coordenador de Assessoramento Superior do Governador, Flavio Koutzi. Além disso, também esteve presente o deputado federal, Vicente Selistre.

Sobre o CDES-RS
O Conselho atuará como um órgão de consulta e assessoramento do chefe do Poder Executivo e integra o Sistema Estadual de Participação. Trata-se de um ambiente voltado à reflexão e ao trânsito de idéias, além de ser um espaço de negociação e de busca de consenso, mediação de conflitos e de elaboração programática. Entre suas funções, está analisar, debater e propor políticas públicas, apontando diretrizes sobre investimentos em logística, infraestrutura, educação, segurança, fomento à produção, geração de emprego e renda, inovação tecnológica, proteção ao meio ambiente, combate à miséria e em todas as áreas relacionadas ao desenvolvimento do Estado.

Estrutura
O Conselho, que será instalado dentro de aproximadamente dois meses, segue a mesma proposta implementada em âmbito nacional e que foi coordenada por Tarso Genro, ainda no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Na esfera federal, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social obteve importantes resultados no estabelecimento de espaços de diálogos e concertação. Em sua estrutura interna, o órgão é composto pelo Plenário, Presidência, Secretaria Executiva, Comitê Gestor e pelas Câmaras Temáticas. O presidente e o vice do Conselho são, respectivamente, o governador e o vice.

Instalação
A partir da segunda quinzena de janeiro começará a ser enviada toda a documentação necessária para os conselheiros, como por exemplo, o regimento interno do CDES-RS. De posse do material, eles deverão fazer suas análises e avaliações para participar das reuniões preparatórias, que ocorrerão no mês de fevereiro. A instalação do Conselho será feita em março e as reuniões acontecerão no Palácio Piratini, a cada dois meses, com a participação do governador Tarso Genro. No mesmo mês, serão formadas as Câmaras Temáticas, compostas por conselheiros, especialistas em temas diversos e representantes do Executivo. As estruturas, que realizarão encontros mensais, têm a função de desenvolver estudos, debater e adotar posições sobre assuntos definidos. No início de janeiro, Tarso criou, por decreto, os Grupos de Trabalho Temporários, preparatórios à instalação das Câmaras.

Conselhos Municipais
O titular da Secretaria Executiva do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, Marcelo Danéris, destacou que quer estimular também a formação de Conselhos similares nos municípios gaúchos. O assunto foi tratado, ainda esta semana, durante o seminário do CDES de Canoas. Para o segundo semestre do ano, está prevista a realização do 1º Encontro Estadual de Conselhos de Desenvolvimento.
Fonte: Imprensa Palácio Piratini

SINDISAÚDE NÃO ACEITA PROPOSTA DA ULBRA PARA RESCISÕES

Na manhã de da última quinta-feira, 13, ocorreu a primeira reunião de mediação entre representantes da Ulbra e do Sindisaúde-RS na Superintendência Regional do Trabalho do RS (SRTE/RS). No encontro, mediado pelo auditor do trabalho, Paulo César Conceição, o assessoria da reitoria da entidade luterana, José Luiz Duizith, voltou a afirmar que a instituição não tem dinheiro para pagar as rescisões dos trabalhadores do Hospital Universitário, e solicitou o parcelamento das dívidas.

Mantendo a mesma posição desde que foi informado da falta de recursos para efetuar os pagamentos, Gilmar França, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde, assegurou que não há possibilidade de parcelamento.

"Não tem como, até porque uma proposta dessas deveria prever valores referentes a multas e juros. Também teríamos que ter no mínimo uma garantia de cumprimento do acordo, que poderia ser em forma de estabilidade trabalhista para os profissionais que desejam continuar com a nova gestão ou algum bem material. No entanto, a situação é complicada. Conforme nos informaram, há o risco de a entidade perder até o seu CNPJ, o que bloquearia qualquer tipo de tratativa”, explica França.

ULBRA REAFIRMA NÃO TER DINHEIRO PARA PAGAR RESCISÕES TRABALHISTAS

Na manhã de hoje (13/01), ocorreu a primeira reunião de mediação entre representantes da Ulbra e do SINDIDAÚDE-RS na Superintendência Regional do Trabalho do RS (SRTE/RS). No encontro, mediado pelo auditor do trabalho, Paulo César Conceição, o assessor da reitoria da entidade luterana, José Luiz Duizith, voltou a afirmar que a instituição não tem dinheiro para pagar as rescisões dos trabalhadores do Hospital Universitário, e solicitou o parcelamento das dívidas.



Mantendo a mesma posição desde que foi informado da falta de recursos para efetuar os pagamentos, Gilmar França, presidente do Sindicato dos Trabalhadores da Saúde, assegurou que não há possibilidade de parcelamento.



“Não tem como, até porque uma proposta dessas deveria prever valores referentes a multas e juros. Também teríamos que ter no mínimo uma garantia de cumprimento do acordo, que poderia ser em forma de estabilidade trabalhista para os profissionais que desejam continuar com a nova gestão ou algum bem material. No entanto, a situação é complicada. Conforme nos informaram, há o risco de a entidade perder até o seu CNPJ, o que bloquearia qualquer tipo de tratativa”, explica.



Também estiveram presentes na reunião representantes do Sindicato dos Farmacêuticos no RS (Sindifars) e do Sindicato dos Técnicos e Auxiliares em Radiologia do RS (Sintargs). No dia 20 de janeiro, haverá uma nova mediação, desta vez com a convocação dos representantes do Grupo Mãe de Deus e da Prefeitura Municipal de Canoas.



Situação ilegal



Todos os trabalhadores que optaram por continuar trabalhando no HU estão em situação ilegal. De acordo com França, os profissionais permanecem realizando as atividades para o Mãe de Deus sem nenhuma garantia: estão sem as carteiras de trabalho que foram retidas pela administração da Ulbra e ainda não foram devolvidas, sem contrato de trabalho com a nova gestão, sem saber os salários que irão receber, assim como também desconhecem a carga horária a que serão condicionados.



“Muitos ainda nem fizeram o exame médico demissional. Caso aconteça algum acidente de trabalho ou de trajeto, quem será o responsável? A Ulbra, o Mãe de Deus ou a Prefeitura de Canoas?”, questiona o dirigente sindical. Para pedir a uma fiscalização imediata no local, está agendada para o dia 18 de janeiro, uma reunião com o Superintendente Regional do Trabalho, Heron Oliveira.





Graziele Corrêa – MPT 14.890

SINDISAÚDE-RS RECOLHE DONATIVOS PARA DESABRIGADOS DO RIO DE JANEIRO

SINDISAÚDE-RS recolhe donativos para desabrigados do Rio de Janeiro
A partir de segunda-feira (17.01), o Sindicato dos Trabalhadores da Saúde terá postos de recolhimento para receber doações para as vítimas das enchentes no Rio de Janeiro. A princípio as coletas serão feitas em três locais, na Clínica e na Colônia de Férias da entidade sindical e na Associação dos Servidores do Hospital de Clínicas (Ashclin).


A ação foi definida após um contato com a Defesa Civil do RS, que orientou sobre os procedimentos para o recolhimento dos donativos. De acordo com Gilmar França, presidente do SINDISAÚDE-RS, as parcerias entre a entidade sindical e as associações de trabalhadores dos hospitais da capital poderão ser ampliadas.


Serão aceitos alimentos não perecíveis e roupas, que posteriormente serão entregues à Defesa Civil do Estado, para que mesma encaminhe para a Defesa Civil carioca.



Pontos de Recolhimento




Clínica do SINDISAÚDE-RS

Rua Vicente da Fontoura, 2222. – Bairro Rio Branco

Atendimento: De segunda a sexta, das 8h às 19h



Colônia de Férias do SINDISAÚDE-RS

Rua Santo Cristo, 445 - Oasis do Sul

Atendimento: De segunda a sexta, das 8h às 19h



Associação dos Servidores do Hospital de Clínicas (Ashclin)

Av. Ramiro Barcelos, 2.350 – Bairro Santa Cecília

Atendimento: De segunda a sexta, das 7h30min às 17h



Mais informações: Tel: (51) 3378.6601



Graziele Corrêa – MTb 14.890

NOSSA MÃE DE DEUS !

IRMÃ LÚCIA BONIATTI "A SALVADORA DE HOSPITAIS"


O Jornal do Comercio entrevistou no ultimo dia 17 de janeiro a Irmã Lúcia Boniatti, Presidente do Grupo Mãe de Deus, segundo o Jornalista Maior Grupo Hospitalar Privado do Sul do Brasil. Em síntese o jornalista provoca a irmã para explicar o milagre do crescimento do Grupo que assumiu 04 hospitais falidos nos últimos dois anos, onde a irmã faz revelações divinas.


Primeiro – O Grupo optou por não aumentar patrimônio.
Segundo – O Grupo fez parcerias com Estado e Prefeituras.
Terceiro – Escolhemos quem vamos socorrer, de uma lista de 13 a 15 hospitais, avaliamos a estrutura.
Quarto – Caridade não existe mais. O mercado exige profissionalismo.
Quinto –Em Porto Alegre não fomos aceitos pelo SUS, geramos receita para fazer o SUS em outras localidades.


Muito comovente, mas nós vamos além das palavras da irmã, vamos contar o milagre completo. Esse milagre não é coisa de Deus, muito menos de sua Santa Mãe, é matemática pura.


Eis a História real.
Um certo Secretario Estadual de Saúde do RS, que ficou por duas gestões, com sua política perversa, enforcou alguns hospitais filantrópicos, em detrimento de outros, com sua caneta mágica, assinava convênios vantajosos com uns e tratava outros a míngua, mas justificava com a seguinte frase, a gestão desses hospitais é ruim.


Certamente esses hospitais enforcados, não suportando mais, foram pedir socorro ao todo poderoso, que de forma bondosa, estendeu a mão, com a condição de a gestão ser trocada para um grupo de sua confiança, que os trabalhadores aceitassem a nova regra da instituição, rescindindo contrato de trabalho.


Esses hospitais falidos ou a beira da falência, sem ter como discordar, eram submetidos a seguinte situação:


1 – Trabalhadores eram demitidos sem receber um único centavo, mas se recebessem teria que ser ainda da antiga administração, o novo grupo não deve dispor de nenhum centavo para indenizar trabalhador.


2 – Contratações novas de acordo com as necessidades e regras do novo grupo.


3 – O Estado e a Prefeitura além dos recursos pagos pelos serviços prestados, colocam recursos extras para qualificação da gestão ou seja bem mais dinheiro.


4 – O grupo que assume não paga dívidas atrasadas, ficando essas para os antigos gestores.


EIS QUE ACONTECEU OS MILAGRES – deu certo - como pode tamanha competência para salvar hospitais de uma hora para outra - isso é incrível - não é que dá certo essa fórmula - o secretario tinha razão - pagar dívida e receber pouco dinheiro é coisa de incompetente - receber bastante dinheiro, não pagar dívida é uma fórmula de sucesso. VIVA.VIVA, VIVA.


FINAL FELIZ e DESGRAÇA PARA OS TRABALHADORES.
Eu mereço, Tu mereces, Nós merecemos.

Milton Francisco Kempfer – Diretor-Presidente da FEESSERS.
Postado por FEESSERS - Federação dos Empregados

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Conselho de Saúde rejeita proposta de fundação para gerir SUS na Capital

Falta de vínculos dos profissionais foi principal falha apontada pelo CMS

Conselho de Saúde rejeita proposta de fundação para gerir SUS na Capital
Falta de vínculos dos profissionais foi principal falha apontada pelo CMS
A proposta que cria uma fundação de direito privado para gerir o Programa de Saúde da Família (PSF) em Porto Alegre foi derrotada, na noite desta quinta-feira, pelo Conselho Municipal de Saúde (CMS). Por 28 votos contra e dois a favor, os conselheiros rejeitaram o modelo que implantaria o Instituto Municipal de Estratégia de Saúde da Família (Imesf).

A coordenadora do conselho, Maria Letícia Garcia, informou que a decisão será encaminhada ao prefeito, à Câmara de Vereadores e ao Ministério Público Estadual. De acordo com a legislação, para o modelo ser implementado seria preciso aprovação do órgão, que tem 50% de representantes de usuários, 25% de trabalhadores e 25% de gestores. No entanto, a recomendação do conselho nem sempre é acatada.

Para Maria Letícia, o principal prejuízo da proposta é a falta de vínculo dos profissionais de saúde e a consequente rotatividade dos trabalhadores, o que inviabiliza a o atendimento continuado à população. Atualmente, a cobertura do Programa de Saúde da Família atinge apenas 25% da Capital.

A coordenadora explica que a decisão reafirma a posição do Conselho Municpal de Saúde expressa na resolução 37/2008, que determina que a Estratégia de Saúde da Família seja adotada como o Modelo de Atenção Básica em Porto Alegre. O documento também veta contratos terceirizados por cooperativas, ONGs e OSCIPs.

Correio do Povo Digital - 06/01/2011- 23:38

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Aprovado convênio do Hospital da Ulbra


Canoas e Mãe de Deus vão gerenciá-lo. O SUS terá 70% do atendimento

Os vereadores de Canoas aprovaram por unanimidade, em sessão extraordinária realizada na manhã de ontem, o convênio de mútua colaboração entre a prefeitura e a Associação Educadora São Carlos (Mãe de Deus) para o gerenciamento assistencial, administrativo e financeiro do Hospital Universitário (HU) da Ulbra.

A parceria poderia ter sido firmada por meio de um contrato, sem a necessidade de passar pela aprovação do Legislativo, conforme explicou a secretária municipal de Saúde e vice-prefeita, Beth Colombo. Porém, a prefeitura optou pelo convênio para receber também o aval da sociedade representada pelos vereadores e pelos membros do Conselho Municipal de Saúde, que aprovaram a medida na semana passada.

Beth explicou que a prefeitura fez uma cessão de uso temporário das instalações do Universitário em parceria com o Mãe de Deus. "Após a publicação do edital tivemos duas propostas concretas: do Mãe de Deus e da Santa Casa. Uma comissão avaliou seis itens, escolhendo o Mãe de Deus, que se comprometeu a manter 70% de atendimento pelo Sistema Único de Saúde", lembrou ela. O HU oferecerá atendimento no Centro Obstétrico, nas unidades de tratamento intensivo e de consultas especializadas.

A meta da Prefeitura de Canoas é ampliar os atuais 120 leitos para 500, sendo 350 destinados ao atendimento do SUS até o final do primeiro ano do convênio. A expectativa da Secretaria Municipal da Saúde é de que, a partir do dia 7 próximo, seja retomada a marcação de consultas eletivas pelo SUS por meio da Central de Regulação de Canoas.

Com a aprovação dos vereadores, começará a transição para o Mãe de Deus. Todos os funcionários do HU terão seus contratos rescindidos pela Ulbra e recontratados pelo Mãe de Deus. O atendimento à população seguirá normalmente.

Nos dois primeiros anos de contrato, os recursos serão oriundos da prefeitura e do Estado. O Mãe de Deus aportará R$ 2 milhões por mês de capital de giro para garantir o funcionamento, sendo ressarcido pelo contrato, e o poder público aportará R$ 14 milhões por dois anos. O Universitário é referência para 14 milhões de habitantes de 42 cidades da região Metropolitana, área que tem déficit atual de mil leitos. A crise financeira da Ulbra reduziu o número de leitos do SUS também na Capital com o fechamento dos hospitais Luterano e Independência.

domingo, 2 de janeiro de 2011

CAMPANHA PELA DIGNIDADE NO TRABALHO

A Rede de Farmácias Capilé, com sede em São Leopoldo, firmou termo de ajuste de conduta (TAC) com o Ministério Público do Trabalho no Rio Grande do Sul (MPT-RS), em acordo promovido pela procuradora do Trabalho Márcia Medeiros de Farias. De acordo com o TAC, a empresa se comprometeu a não realizar revistas íntimas nos trabalhadores e a não adotar prática vexatória da intimidade e dignidade de seus empregados.


Sobre esses temas, a rede de farmácias produziu 5 mil cartazes. A campanha traz o seguinte texto: "A intimidade e a dignidade do trabalhador devem ser respeitadas também em seu ambiente de trabalho. Não é permitida a revista dos trabalhadores ou de objetos pessoais no ambiente de trabalho. Não fique calado!". O cartaz divulga, ainda, o endereço do MPT em Porto Alegre e o site www.prt4.mpt.gov.br para denúncias. A Rede de Farmácias Capilé também deverá providenciar, por três anos, palestra anual sobre dignidade e intimidade do trabalhador e os direitos daí decorrentes, a ser ministrada por profissional especializado.


A campanha do MPT-RS alerta exatamente sobre esse tema: não é permitida a revista de trabalhadores ou de objetos pessoais no ambiente de trabalho. Denúncias podem ser feitas pelo telefone (51) 3284-3000.


(Publicado no Correio do Povo de 30/12/2010 - Pág. 18)

A MEDICINA DOENTE

Um conjunto de distorções abala a confiança nos médicos e expõe a crise sem precedentes por que passa a medicina

Mortes provocadas por remédios que deveriam curar, exames e cirurgias caros e desnecessários, tratamento desumano de pacientes. Um conjunto de distorções abala a confiança nos médicos e expõe a crise sem precedentes por que passa a medicina



Flagrante do cotidiano em um consultório médico do terceiro milênio: um executivo entrega ao doutor um calhamaço de exames e logo fica sabendo que sua saúde não anda bem. O colesterol alcançou a estratosférica taxa de 800 miligramas por decilitro – mesmo no futuro, uma taxa superior a 250 miligramas indica que o sujeito vai mal –, o que faz de Roberto um candidato fortíssimo a ter um infarto fulminante. O caso exige cuidados imediatos. Mas, ao contrário do que ocorre hoje, o médico não saca a caneta para gerar uma prescrição. Limita-se a digitar em um banco de dados online a seqüência de genes das células sangüíneas do executivo e a aguardar, por alguns instantes, o trabalho de uma pequena impressora. É dali que emerge uma receita completa e específica com a indicação, entre quase 200 remédios disponíveis no mercado, daquele que melhor interage com o paciente.

É tudo tão rápido que a tradicional consulta médica dura só alguns minutos. Afinal, são máquinas inteligentes, conectadas a bancos de dados colossais, que se encarregam praticamente sozinhas do diagnóstico, levando em consideração todas as características orgânicas e genéticas do paciente, seu histórico médico, entre outros parâmetros. Transformado em simples intermediário entre o paciente e a tecnologia, ao doutor cabe apenas alimentar o sistema com dados de análises de sangue e tecidos orgânicos realizadas – adivinhe – por outros engenhos eletrônicos. É o máximo em automação e customização do atendimento, num contexto em que a prescrição de uma simples aspirina pode mobilizar e cruzar milhões de informações.

Com certeza você ainda não conhece nenhum médico que trabalhe assim, apesar da parafernália tecnológica já utilizada pela medicina moderna. Mas o quadro descrito acima deverá fazer parte da vida real nos próximos cinco anos, graças a um novo ramo da ciência que une a farmacopéia às descobertas recentes sobre o genoma humano – a farmacogenômica. O curioso é que, em vez de trazer a certeza de que, nessa cena futurista, os serviços médicos atingirão o ápice em qualidade, a promessa de mais automatismo na medicina só atiça uma polêmica emergente em todo o mundo: o modelo biomédico, sobre o qual se apóiam as rotinas atuais de clínicas e hospitais – e também a produção de medicamentos –, atende, de fato, às necessidades do homem no campo da saúde?

Eis aí um paradoxo. Enquanto a intimidade microscópica do organismo é devassada pela ciência e mais e mais recursos high-tech são incorporados aos sistemas de diagnóstico e terapia, cresce também a insatisfação das pessoas com os custos, o atendimento, e, sobretudo, com a promessa fria de eficácia dos procedimentos médicos. “Em todos os setores a sofisticação tecnológica reduziu custos e aumentou a satisfação do cliente, exceto na medicina”, diz Flávio Corrêa Próspero, presidente da Associação Brasileira de Qualidade de Vida. Hoje as pessoas buscam muito mais os médicos do que no passado, gastam pequenas fortunas com exames, estão quase que continuamente tomando algum remédio e, no final, sempre descobrem que não se livraram de antigas complicações ou que contraíram alguma das novas doenças que não param de engordar a lista oficial de moléstias catalogadas – ela já soma 30 000 itens.

Além disso, a tecnologia médica parece ter promovido o distanciamento entre o terapeuta e o paciente, desumanizando a prática profissional e abalando uma relação milenar associada ao processo de cura. A julgar pelo novo horizonte trazido pela farmacogenômica, esse fosso deverá ampliar-se ainda mais quando as máquinas de prescrição invadirem os consultórios.

A noção de que há algo errado com a medicina como a conhecemos é consensual. Falam disso usuários e críticos dos serviços de saúde. E também os próprios médicos, tradicionalmente uma das categorias profissionais mais marcadas pelo corporativismo. O que varia são as leituras da situação, que apontam causas e soluções distintas para o problema. Outro sinalizador da crise que, aos poucos, se instala na área da saúde é a corrida de usuários da medicina convencional para as chamadas terapias alternativas, métodos de cura baseados em paradigmas que se opõem ao modelo médico hegemônico, geralmente originárias do Oriente. Na França, estima-se que 82% dos pacientes superpõem a seus tratamentos na medicina oficial as terapias alternativas.

Nos Estados Unidos, 35% da população já freqüenta consultórios de homeopatas, acupunturistas e outros terapeutas que não fazem uso de drogas químicas, os chamados remédios alopatas.Inflando a onda de contestações, há uma série de falhas que contribuem para minar a confiança de pacientes nos ritos médicos tradicionais.

Tomem-se, por exemplo, alguns números dos Estados Unidos, o centro médico mais avançado do mundo. Ali, segundo estimativa da própria Associação Médica Americana, a cada ano 2,2 milhões de pessoas contraem doenças e outras 106 000 morrem devido a efeitos colaterais de medicamentos, a quarta causa de óbitos no país. Um espanto quando se considera o rigor da FDA, a agência federal de controle de drogas. O órgão costuma autorizar a comercialização de um novo remédio somente após uma seqüência de estudos que envolvem milhares de pacientes ao longo de cinco ou mais anos. (No Brasil, quinto país do mundo em consumo de medicamentos, a Fundação Oswaldo Cruz estima em 24 000 as mortes anuais por intoxicação medicamentosa.) Nos hospitais, 98 000 americanos teriam morrido, no ano passado, vitimados por erros médicos grosseiros. Mas Janet Corrigan, diretora de Serviços de Saúde do Instituto de Medicina (IoM), um órgão do governo, acha que o número foi subestimado. “O erro médico tem sido ocultado”, diz Janet.

O número seria maior se computados os casos ocorridos em casas de repouso, prontos-socorros e consultórios. Incluam-se nesse rol de problemas as queixas contra efeitos colaterais das vacinas – foram 108 000, no ano passado, apenas através do site do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos – e se perceberá que o raio-x da medicina oficial está marcado por nódulos e obstruções.

Seria loucura negar, sob o pretexto dessas distorções, a contribuição dos serviços médicos à melhoria da qualidade de vida e à longevidade no mundo atual. Quem, vivendo em algum lugar minimamente civilizado, não conhece pelo menos um caso de alguém salvo da morte ou libertado da doença graças à pronta intervenção médica? O que os problemas em debate revelam é que essa contribuição pode estar aquém do que se imagina, numa relação custo-benefício bastante desfavorável para quem paga a conta – o paciente. Um estudo da Universidade Stanford, dos Estados Unidos, com o objetivo de aferir os fatores que levam uma pessoa a viver mais de 65 anos, mostrou que a assistência médica é o que menos pesa: apenas 10% num conjunto em que o estilo de vida participa com 53%, as condições ambientais com 20% e a herança genética com 17%. É muito pouco quando se compara esse percentual aos preços salgados e aos lucros gordos que envolvem a assistência médica.

Na última década, os serviços médico-hospitalares cresceram em torno de 12% ao ano nos Estados Unidos. Estima-se que eles responderão por 15% do PIB americano este ano, algo em torno de 1,3 trilhão de dólares. (Isso dá mais de duas vezes o PIB brasileiro.) Em média, cada cidadão americano gasta 4 800 dólares por ano com consultas médicas, exames e internações. No Brasil, onde a assistência médica compõe 4% do PIB (algo como 24 bilhões de dólares), a Fundação Getúlio Vargas estima que na cidade de São Paulo, o maior centro médico do país, a indústria da saúde cresce em torno de 15% ao ano.

Os números de Stanford apontam para problemas que, até há pouco, se mantinham encobertos pela suposição de que a simples sofisticação tecnológica e a variedade de drogas produzidas pela indústria farmacêutica bastavam para derrotar tanto as velhas doenças quanto as novas moléstias. Sabe-se agora que é enorme o desperdício na utilização da tecnologia – um dos principais fatores dos altos custos médicos –, bem como o abuso na prescrição de remédios e indicação de cirurgias. “A escola americana de medicina, modelo seguido no Brasil, é muito intervencionista”, afirma a doutora Regina Parizi, presidente do Conselho Regional de Medicina de São Paulo. “Nesse modelo apela-se demais à cirurgia e aos procedimentos agressivos.” Compare: enquanto no Japão apenas um em cada 100 000 habitantes é submetido a algum tipo de cirurgia coronária por ano, nos Estados Unidos essa proporção sobe para 61 por 100 000.

Não há também justificativa lógica para o fato de 51% dos partos no Estado de São Paulo acontecerem mediante operações cesarianas.

Na verdade, diz o psiquiatra paulistano e doutor em psicossomática Wilhelm Kenzler, cerca de 85% dos exames solicitados pelos médicos – o número varia de seis a 28 na consulta inicial – apresentam resultados negativos. E mais de 90% dos diagnósticos se resumem nas siglas NDN (nada digno de nota) ou DNV (distúrbio neurovegetativo, ou seja, uma crise nervosa). Mesmo assim a maioria dos pacientes volta para casa com uma receita de medicamento, cujo uso – dispensável na maioria dos casos, como se pode perceber – pode ser o ponto de partida de “doenças iatrogênicas”, aquelas que são causadas por tratamentos médicos inadequados.

Eis aqui outro paradoxo. Enquanto se queixam do relacionamento frio e impessoal com a medicina, os pacientes cada vez mais transferem para os médicos e seu arsenal químico e tecnológico a responsabilidade pela própria saúde e a de seus familiares. Não raro, são eles próprios que acionam o circuito do desperdício e da dependência, pressionando pela prescrição de exames e de drogas. Se isso não acontece, costumam entrar em pânico ou duvidar do profissional, como afirma o pediatra americano Wells Shoemaker. Ao atender em seu consultório, no interior da Califórnia, um menino acometido de resfriado comum, o médico recomendou apenas repouso e boa alimentação. Para sua surpresa, a mãe da criança, inconformada, exclamou que não voltaria para casa sem uma receita. “Meu filho precisa de antibióticos”, disse a mulher. “É assim que ele cura seus resfriados.”

O pediatra ainda tentou explicar que antibióticos combatem bactérias e não vírus, os causadores de resfriados, além de serem substâncias perigosas, com muitos efeitos adversos no organismo. Em vão. Aos berros, a mãe do menino encerrou a consulta: “Vou procurar um doutor que saiba cuidar de crianças”.

Mas, afinal, o que está mesmo acontecendo com a medicina? Por que tantos exageros e descontentamentos numa época em que o conhecimento das ciências médicas, segundo o doutor em neurofisiologia Renato Sabbatini, da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, em Campinas, dobra a cada três anos e em que não existe limite para a tecnologia que desbrava o corpo humano? “Isso ocorre devido a três pontos críticos”, diz Wilhelm. “À despersonalização, à tecnificação e à mercantilização da medicina.” Na raiz desses males estaria o próprio conjunto de conceitos e hipóteses que fundamentam a moderna prática médica – o modelo biomédico moldado há três séculos.

Para entendê-lo é necessário recuar no tempo para encontrar dois marcos na história do conhecimento: o físico inglês Isaac Newton e o filósofo francês René Descartes. No século XVII, Newton concebeu o universo como um imenso mecanismo de relógio, possível de ser compreendido a partir do estudo de suas partes. Na mesma época, Descartes estabeleceu a visão dualista do homem, separando mente e corpo como entidades independentes. Nos séculos seguintes, tais idéias constituíram o cerne do que hoje é conhecido como o paradigma cartesiano-newtoniano, base de todos os sistemas conceituais nos diversos ramos da ciência. Na medicina, a aplicação do paradigma mecanicista deu ênfase ao estudo isolado de órgãos e tecidos, o que foi reforçado ainda mais pelos grandes avanços da microbiologia no século XIX.

O modelo biomédico consiste basicamente em três premissas: o corpo é uma máquina, a doença é conseqüência de uma avaria em alguma de suas peças e a tarefa do médico é consertá-la. A partir daí é que se determinou a prática médica atual, a organização da assistência à saúde e a formação dos recursos humanos nessa área, caracterizando-se a ruptura com a tradição inspirada no grego Hipócrates (século V a.C.) e seus valores humanísticos. “As raízes da medicina hipocrática se assentavam na filosofia da natureza e seu sistema teórico partia de uma visão holística que entendia o homem como um ser dotado de corpo e espírito”, afirma Dante Gallian, pesquisador do Centro de História e Filosofia das Ciências da Saúde da Universidade Federal de São Paulo. O médico clássico era um filósofo.

Conhecia a alma humana e a cultura local, andava muito próximo de seus pacientes e atuava como conselheiro em assuntos como o despertar da sexualidade nos adolescentes, os problemas de relacionamento do casal e outras questões da vida familiar. Diante das limitações terapêuticas, permanecia ao lado do enfermo e seus familiares, ajudando-os no sofrimento e na preparação para a morte. A figura romântica desse clínico geral foi sepultada pela explosão das especializações no século XX, quando o reducionismo impôs-se de vez à prática médica ocidental. O médico, então, tornou-se um técnico, um especialista com grande conhecimento específico e quase sempre sem noção do todo.

Note: a implantação do modelo biomédico não emergiu do nada, mas de uma convergência de fatores históricos e culturais que validaram, na época, os axiomas básicos da medicina ocidental como a conhecemos. O trabalho do químico francês Louis Pasteur, pioneiro no estudo dos microorganismos, é talvez o pilar mais importante desse modelo. Pasteur demonstrou a correlação entre bactérias e doenças e atribuiu a micróbios específicos a causação de doenças específicas. Opôs-se assim a Claude Bernard, cuja teoria, muito difundida no século XIX, apresentava a doença como resultado de uma perda de equilíbrio do organismo provocada por fatores externos e internos. Bernard afirmava que os micróbios são inócuos e que o corpo do homem é hábitat natural de bactérias, úteis à eliminação de toxinas. Em apenas 1 mililitro de saliva humana, por exemplo, existem 150 milhões de bactérias.

Essa coexistência pacífica dos microorganismos com o nosso corpo só seria rompida, segundo Bernard, quando este, agredido por fatores ambientais e hábitos não saudáveis, se desregulasse e se transformasse em um “terreno” propício ao surgimento de doenças. Em vez de ser a causa primária das doenças, as bactérias seriam manifestações sintomáticas de um distúrbio fisiológico oculto. Os danos a tecidos e órgãos, na tese de Bernard, decorreriam da reação excessiva do organismo provocada por descontrole dos mecanismos de defesa.

Pasteur, que, além de pesquisador meticuloso era um polemista hábil, acabou infundindo sua teoria, favorecido pela eclosão, na Europa, de epidemias que lhe permitiram demonstrar o conceito de causação específica. Desde então, o combate aos microoganismos geradores de doenças passou a ser o foco da medicina ocidental em sua pretensão de tornar-se uma ciência exata. No século XX, o desenvolvimento de vacinas e medicamentos contra enfermidades infecciosas, especialmente os antibióticos, os antidepressivos e a descoberta do hormônio cortisona e seu poder antiinflamatório, selaram o triunfo do modelo biomédico no controle de males devastadores. Também a eficácia da medicina de emergência em casos de acidentes, infecções agudas e outros imprevistos contribuiu para esse êxito.

Os novos recursos da medicina e da farmacologia passaram a ser vistos como os grandes responsáveis pela melhoria das condições de saúde e o aumento da expectativa de vida nos últimos 100 anos. (Em 1900 um brasileiro vivia, em média, 37 anos; hoje vive 68, quase o dobro.)

O brilho de tanto sucesso ofuscou por várias décadas questões como o perigo dos efeitos colaterais dos medicamentos, a influência dos fatores sociais, econômicos e culturais no aumento da expectativa de vida e a contribuição poderosa dos processos psíquicos e dos hábitos para a saúde do organismo. Mas, nos últimos tempos, pesquisas como a da Universidade Harvard, atestando a supremacia do estilo de vida entre os fatores de saúde e longevidade, trouxeram para o centro do debate antigos argumentos. Um deles, apresentado pelo inglês Thomas Mckown, em seu livro The Role of Medicine: Mirage or Nemesis (O papel da medicina: ilusão ou castigo), ainda inédito no Brasil, é o que atribui o enorme declínio da mortalidade, a partir do século XVIII, ao aumento da produção de alimentos, com reflexos na nutrição das pessoas, à melhoria das condições de higiene e saneamento e à redução da pobreza.

Segundo Thomas, as principais doenças infecciosas já tinham atingido o seu pico e estavam em declínio bem antes da chegada dos antibióticos ou das campanhas de imunização, fato que demonstraria a responsabilidade modesta que a intervenção médica teve naqueles casos. Quando a vacina contra sarampo foi adotada nos Estados Unidos, em 1964, por exemplo, o índice de mortes provocadas pela doença já havia declinado 95% desde 1915.

Seja como for, os medicamentos passaram a ser vistos como a chave para a cura de todos os problemas de saúde. E, como conseqüência, a produção de remédios tornou-se um dos negócios mais lucrativos do planeta, detalhe que veio a influenciar profundamente o ensino e a prática da medicina. A aliança das ciências médicas com a indústria farmacêutica, ainda hoje um dos muitos temas tabus entre os médicos, foi notada pela primeira vez no início do século XX, quando a Associação Médica Americana promoveu uma pesquisa sobre as escolas de medicina. O objetivo do estudo era proporcionar uma base científica à formação do médico. Mas havia um objetivo paralelo: selecionar escolas que receberiam verbas vultosas de fundações como a Rockefeller e a Carnegie, desde que atendessem a critérios preestabelecidos. A pesquisa deu origem ao chamado Relatório Flexner, documento que influenciou a reforma do ensino médico nos Estados Unidos.

“O interesse do big business não é curar, mas manter as doenças sob controle de remédios”, diz Wilhelm. Segundo o psiquiatra, que também é professor de medicina psicossomática na Faculdade de Medicina Santo Amaro, em São Paulo, a grande indústria farmacêutica mobiliza bilhões de dólares para financiar escolas e centros de pesquisa médica, além de cortejar médicos e pesquisadores com mordomias que incluem viagens a congressos e estágios no exterior. “O pesquisador passa a ser praticamente um colaborador do laboratório farmacêutico e o médico, um de seus propagandistas”, afirma Wilhelm. A finalidade desses estudos seria quase sempre validar novos produtos prestes a entrar num mercado novo.

Há 20 anos, o mercado global de medicamentos movimentava apenas 12 bilhões de dólares. Agora a indústria farmacêutica quer chegar a 2002 faturando 400 bilhões de dólares. É como se dois terços de toda a riqueza produzida no Brasil no ano passado fosse empregada apenas na compra de remédios alopáticos. Mas o que move a parceria da indústria farmacêutica com a pesquisa e o ensino médico não é o mero desejo de lucro, diz Serafim Branco Neto, secretário Executivo da Abifarma, a Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica. “Perde-se muito dinheiro em pesquisas que não chegam a nada ou desaconselham o uso de algum novo produto.” Segundo Serafim, o valor médio investido na pesquisa de uma única nova droga é de 400 milhões de dólares.

“Não há nada errado no modelo biomédico. O paradigma da patologia celular continua válido e é suficiente para explicar as doenças e buscar a sua cura”, diz Renato Sabbatini. “A boa medicina é científica, apóia-se em evidências.” Para Renato, muitas das limitações da medicina convencional, entre elas os efeitos adversos dos remédios, devem ser superadas nos próximos anos graças aos progressos da biologia molecular. Medicamentos feitos sob medida, a partir do conhecimento do código genético do paciente, serão mais precisos. E as intervenções no DNA poderão tornar o organismo humano mais resistente às condições ambientais ou dotado de habilidades próprias de outras espécies como, por exemplo, enxergar no escuro.

O problema da medicina, diz Renato, está circunscrito à exploração econômica da atividade, que transformou o médico num assalariado mal pago e afetou a qualidade do ensino da medicina com a proliferação desordenada de cursos – outro grande filão na área da saúde. O Brasil possui 104 faculdades de medicina. Apenas em Ribeirão Preto, cidade média do interior de São Paulo, existem quatro. Entre as 81 faculdades submetidas, no ano passado, ao exame de avaliação do MEC, o provão, mais de um terço recebeu conceito ruim ou péssimo.

Lançados em ritmo de linha de montagem no mercado urbano (há três anos metade dos 216 000 médicos atuantes no Brasil trabalhava em São Paulo e no Rio de Janeiro), muitos desses profissionais acabam incorrendo em transgressões éticas que vão além da indiferença no trato com o paciente. “O que esperar de um médico que ganha 3 reais por consulta no Sistema Único de Saúde, o SUS, se ele pode ganhar 400 solicitando uma tomografia ou 40 000 numa cirurgia paga pelo cliente?”, pergunta Renato. Uma expressiva parcela dos médicos tornou-se, enfim, vítima de situações estressantes, nem sempre levadas em conta quando eles cuidam da própria saúde e da de seus pacientes.

Chega a ser irônico que a expectativa de vida dos profissionais da área médica, mesmo em países desenvolvidos, como os Estados Unidos, seja cerca de dez anos menor que a média das outras pessoas. Também causa espanto que o alcoolismo, o abuso de drogas e o suicídio apresente elevados índices entre os médicos. Um estudo da Universidade da Califórnia, realizado no ano passado entre 9 600 médicos americanos, mostrou que 20% deles usaram drogas derivadas de ópio, prática facilitada pelo acesso rotineiro à morfina e substâncias similares utilizadas em hospitais. O alcoolismo é um vício tão espraiado entre médicos que foi criada uma versão especial dos grupos de auto-ajuda Alcoólicos Anônimos só para atendê-los – o International Doctors in Alcoholics Anonymous, IDAA. O mais grave em tudo isso é que, com raras exceções, os médicos dependentes de drogas continuam na ativa, às vezes atendendo em UTIs e realizando cirurgias.

Como entram os pacientes nessa história? Para começo de conversa, é preciso frisar que muitos dos males apontados na medicina ocidental têm relação causal com a postura passiva de indivíduos como eu e você. De modo geral, os pacientes delegam aos médicos a responsabilidade integral pelo diagnóstico da doença e pela decisão sobre que terapia adotar. Essa tradição paternalista agrada à maioria dos pacientes, que não está nem um pouco interessada numa participação que lhes exija algum tipo de esforço. Afinal, por que operar sofridas mudanças de comportamento e de hábitos alimentares, por exemplo, se é tão mais fácil engolir uma pílula mágica? Essa atitude, no entanto, começou a mudar. E, com isso, alguns pilares da rotina médica ocidental passaram a se mover.

A voz dos pacientes precisa ser ouvida”, diz Patrick Terry, líder de um grupo de pacientes de Sharon, Massachusetts, nos Estados Unidos, acometidos de PXE, doença que resulta da acumulação de cálcio nos tecidos e pode cegar suas vítimas. A voz dos usuários começa a ser ouvida em diferentes estágios da cadeia médica. Grupos similares ao de Patrick, como o Genetic Interest Group, da Inglaterra, e outros na Holanda, na Bélgica e nos Estados Unidos não se mobilizam apenas por mais humanismo na medicina. Eles querem influenciar o desenvolvimento de drogas contra doenças incuráveis, inclusive propondo-se a adquirir patentes de novos remédios com a intenção de barateá-los.

Iniciativas como essa já produzem resultados lá fora. E no Brasil também. Nos últimos anos, por exemplo, centenas de escolas de medicina dos países desenvolvidos anunciaram ajustes em sua grade de conteúdos, com a inclusão de disciplinas que abrangem relações humanas, dinâmica familiar, violência doméstica e até fé e compaixão. “No Brasil também estamos discutindo a reformulação do ensino médico”, diz Regina. “O objetivo é formar profissionais mais generalistas e capazes de lidar com pessoas, seguindo os passos das principais faculdades de medicina do mundo.” Uma pesquisa patrocinada pelo governo americano revelou que, para 85% dos pacientes, o valor de um médico se deve mais à sua capacidade de ouvir e explicar do que ao peso do seu currículo.

É pouco provável que o modelo de medicina hegemônico no Ocidente venha a ser alterado em sua base nos próximos anos. Mesmo com as limitações e distorções agora em debate, a medicina convencional ainda é o recurso mais próximo e mais rápido para o enfrentamento de situações extremas no campo da saúde. Mas é bom prestar atenção ao que se passa na vizinhança do establishment médico. Neste momento, cerca de 200 hospitais americanos já utilizam terapias não-alopáticas para complementar o tratamento de seus pacientes. Escolas de medicina do primeiro time, como as das universidades Harvard, Stanford e Columbia, mantêm departamentos voltados exclusivamente para a pesquisa de terapias alternativas e de práticas holísticas baseadas no conhecimento oriental. Grupos de médicos brasileiros ligados a grandes hospitais, como o Hospital do Servidor Municipal de São Paulo, e à Universidade de São Paulo, discutem uma abertura da medicina convencional na direção de outros sistemas de cura.

Como em qualquer crise, a da medicina moderna pode ser um sinal de renovação.

Fonte: Revista Superinteressante- Jomar Moraes

SINDISAÚDE SE POSICIONA CONTRA DECISÃO DA CÂMARA

Na última semana, foi aprovada na Câmara de Vereadores a criação de uma fundação pública de direito privado para gerir a saúde no município. A aprovação se deu mesmo com um grande número de sindicatos mobilizado contra esta decisão. Durante a sessão, na qual ocorreu a votação, o Sindicato dos Municipários de Canoas (Simca) se fez presente com um expressivo número de trabalhadores e expressou sua contrariedade.

Agora, depois de o Simca expressar a sua indignação, é a vez do Sindisaúde protestar contra a decisão dos vereadores.

O presidente do Sindicato, Gilmar França, disse ser vergonhoso que a Câmara tenha aprovado o projeto. Citou em especial o líder do governo, Nelsinho Metalúrgico: "ele não poderia estar defendendo com tanta voracidade uma matéria que desconhece.

O presidente do Sindisaúde lembrou ainda que a CUT-RS ingressou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade, da qual o Sindicato também faz parte, questionando este tipo de entidade de natureza jurídica imprecisa. "É uma área de responsabilidade do gestor público municipal e estadual”, diz.

Inconstitucional

Logo depois da primeira reunião intersindical organizada pelo Simca, em setembro, para discutir o tema, a reportagem de OT conversou também com o advogado do Sindicato, Jeverton Lima. Na ocasião, Lima destacou que a criação de uma fundação pública de direito privado para gerir a saúde vai contra os rumos que o SUS vem tomando no país e até mesmo contra a própria constituição. "A saúde é de responsabilidade direta do Estado, na pior das hipóteses, e ainda assim seria discutível, esta responsabilidade poderia passar para uma fundação pública de direito público”, avalia.

Fonte: O TIMONEIRO -31/12/2010