Gilmar França

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terça-feira, 24 de julho de 2012


ARTIGO – Assédio moral no trabalho – Por Agnes Cavalcante

Sábado , 07 de Julho de 2012 - 9:37
Como identificar e se proteger desse inimigo “silencioso”
 
Toda e qualquer humilhação, discriminação de forma discreta ou não, no ambiente de trabalho, pode ser considerada assédio moral. Não se trata de um fenômeno novo, mas sim, de um crime que é tão antigo quanto o trabalho.
 
É a exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e assimétricas, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e a éticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais subordinado(s), desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a organização, forçando-o a desistir do emprego.
 
A juíza Marlene Alves de Oliveira, titular da 4ª Vara do Trabalho em Rio Branco, explica que um ato isolado de humilhação não pode ser considerado assédio moral. “A humilhação no trabalho causa dor e não é baseado em um mero sentimento de do trabalhador. Quanto ao empregador, ele deve estabelecer limites que não atinjam o trabalhador. Felizmente os empresários estão mais conscientes sobre o assunto e tem desenvolvido métodos para melhorar a relação com os trabalhadores. Um bom exemplo é o prêmio mensal para o melhor vendedor, muito utilizado em algumas lojas”, destaca a magistrada.
 
De acordo com a juíza, são inúmeros os processos em tramitação no Estado a respeito de assédio moral, sobretudo, a magistrada reitera que “agora” é que os trabalhadores estão tendo coragem para denunciar os casos de abuso.
 
Um problema internacional que atinge milhares de trabalhadores em todo o mundo
 
A violência moral no trabalho constitui um fenômeno internacional, segundo levantamento da Organização Internacional do Trabalho (OIT) com diversos paises desenvolvidos. A pesquisa aponta para distúrbios da saúde mental relacionado com as condições de trabalho em países como Finlândia, Alemanha, Reino Unido, Polônia e Estados Unidos. As perspectivas são sombrias para as duas próximas décadas, pois segundo a OIT e Organização Mundial da Saúde, estas serão as décadas do ’mal estar na globalização", onde predominará depressões, angustias e outros danos psíquicos, relacionados com as novas políticas de gestão na organização de trabalho e que estão vinculadas as políticas neoliberais.
 
Constrangimentos que deixam marcas irreparáveis por toda a vida
 
O depoimento a seguir é de uma estudante de 23 anos que há cerca de um ano, sofreu com o assédio moral e também sexual no trabalho. Para preservar sua imagem, a estudante preferiu não expor sua identidade mas revelou detalhes do que lhe aconteceu.
 
Eu estava em meu trabalho quando, de repente, a pessoa que comandava o departamento me fez um pedido extremamente intrigante: queria que eu tirasse a blusa e mostrasse os seios.
Ele afirmava que éramos amigos e que “não havia mal algum”, já que ele não faria nada comigo a não ser olhar. Fiquei extremamente consternada e me senti num impasse: continuar no emprego e me submeter à situação ou evitar o constrangimento e continuar com meu orgulho?
 
É claro que, dadas às circunstâncias em que me encontrava, optei pela primeira opção. Hoje, me arrependo amargamente, já que meu orgulho foi ferido e passei por inúmeros problemas emocionais, de modo que até hoje, passo por tratamentos psicoterapêuticos para tentar superar.
 
O medo de perder o emprego, por assim dizer, me fez sentir menos mulher e menos feliz. Nunca mais desejei passar por isso.
 
É perceptível que o assédio foi claramente sexual, mas imagine você na mesma situação que eu, tentando seguir a vida e com medo, inclusive, de conseguir um novo trabalho. Era difícil recomeçar a confiar nas pessoas, já que elas me causavam medo e até mesmo ojeriza. Sentia nojo de mim, sentia nojo dos outros. Era constrangedor não conseguir sequer acordar para conseguir um emprego, foi um período muito difícil e, até hoje, tento superá-lo.
 
Optei por não processá-lo por medo de represálias e por ficar conhecida pelo incidente, além de ter consciência que isso iria expor não somente a mim, mas a toda minha família e as pessoas que estavam ao meu redor. É como querer gritar e não ter voz. Foi uma experiência ruim que me deixou marcas para toda a vida.
 
Danos da humilhação à saúde
 
A humilhação constitui um risco invisível, porém concreto nas relações de trabalho e a saúde dos trabalhadores e trabalhadoras, revelando uma das formas mais poderosa de violência sutil nas relações organizacionais, sendo mais freqüente com as mulheres e adoecidos. Sua reposição se realiza ’invisivelmente’ nas práticas perversas e arrogantes das relações autoritárias na empresa e sociedade.
 
A humilhação repetitiva e prolongada tornou-se prática costumeira no interior das empresas, onde predomina o menosprezo e indiferença pelo sofrimento dos trabalhadores/as, que mesmo adoecidos/as, continuam trabalhando.
 
Freqüentemente os trabalhadores/as adoecidos são responsabilizados/as pela queda da produção, acidentes e doenças, desqualificação profissional, demissão e conseqüente desemprego. São atitudes como estas que reforçam o medo individual ao mesmo tempo em que aumenta a submissão coletiva construída e alicerçada no medo. Por medo, passam a produzir acima de suas forças, ocultando suas queixas e evitando, simultaneamente, serem humilhados/as e demitidos/as.
 
O que a vítima deve fazer?
 
Resistir: anotar com detalhes toda as humilhações sofridas (dia, mês, ano, hora, local ou setor, nome do agressor, colegas que testemunharam, conteúdo da conversa e o que mais você achar necessário). Dar visibilidade, procurando a ajuda dos colegas, principalmente daqueles que testemunharam o fato ou que já sofreram humilhações do agressor. O apoio é fundamental dentro e fora da empresa.
 
Evitar conversar com o agressor, sem testemunhas. Ir sempre com colega de trabalho ou representante sindical. Exigir por escrito, explicações do ato agressor e permanecer com cópia da carta enviada ao D.P. ou R.H e da eventual resposta do agressor. Se possível mandar sua carta registrada, por correio, guardando o recibo.
 
Procurar seu sindicato e relatar o acontecido para diretores e outras instancias como: médicos ou advogados do sindicato assim como: Ministério Público, Justiça do Trabalho, Comissão de Direitos Humanos e Conselho Regional de Medicina (ver Resolução do Conselho Federal de Medicina n.1488/98 sobre saúde do trabalhador).
 
Recorrer ao Centro de Referencia em Saúde dos Trabalhadores e contar a humilhação sofrida ao médico, assistente social ou psicólogo. Buscar apoio junto a familiares, amigos e colegas, pois o afeto e a solidariedade são fundamentais para recuperação da auto-estima, dignidade, identidade e cidadania.
 
Se você é testemunha de cena(s) de humilhação no trabalho supere seu medo, seja solidário com seu colega. Você poderá ser "a próxima 

vítima" e nesta hora o apoio dos seus colegas também será precioso. Não esqueça que o medo reforça o poder do agressor!

Fonte: Jornal Eletronico- Rondoniaovivo.

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