Quando acionados, serviços buscam vagas disponíveis nos hospitais do Estado e da Capital
Defendidas como uma das principais formas de se agilizar a internação de pacientes que necessitam de leitos em hospitais espalhados pelo Rio Grande do Sul e em Porto Alegre, as centrais de regulação, sejam de leitos ou do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu), tiveram suas eficiências postas em dúvida no ano passado, quando diversos casos envolvendo problemas de dificuldade em internações ganharam destaque na mídia.
O presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), Fernando Matos, não poupa críticas ao sistema. "As centrais de regulação são um fracasso. Tanto a de Porto Alegre quanto a do Estado. Elas não têm organização. Desde a área física até as condições de trabalho", afirma.
Para o médico, diversos problemas afetam o funcionamento das centrais. "É uma linha telefônica para atender a quatro, cinco médicos. Não existe radiotelefonia para comunicação com as ambulâncias. Não existem condições ergonômicas para o servidor aguentar um plantão de 12 horas. A estrutura física, os equipamentos e a quantidade de profissionais médicos necessários são insuficientes", enfatiza.
Segundo Matos, há muita demora na identificação de leitos disponíveis para internação. O presidente do Cremers afirma que, de outubro até meados de dezembro do ano passado, ocorreram dez mortes no Estado envolvendo deficiências das centrais. "Ou a regulação demorou a achar um leito, ou demorou a mandar uma ambulância, ou a ambulância que chegou era do tipo errado. Abrimos sindicâncias para investigar isso", observa.
Para a secretaria estadual, problema está no déficit de leitos
O diretor do Departamento de Assistência Hospitalar da Secretaria Estadual de Saúde (SES), Marcos Antonio Lobato, discorda da opinião do presidente do Cremers. Para ele, o problema não está nas centrais de regulação de leitos. "O problema está no sistema de saúde. Nos últimos dez anos, houve uma grande redução de leitos hospitalares. Se temos de regular leitos e temos uma redução deles, é claro que é muito mais difícil fazer isso, decidir quem vai para qual leito", afirma.
Para ele, a alternativa apontada pelo conselho para resolver o dilema é equivocada. "A solução não é aumentar a capacidade da regulação estadual ou municipal. A solução é abrir leitos hospitalares. O Cremers aponta a solução errada porque faz um diagnóstico errado", enfatiza Lobato.
Conforme o médico, em 2011, a SES abriu 220 leitos para atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no Estado, além de outros 40 leitos de UTI. Lobato admite que o número é insuficiente, mas ressalta que se isso viesse ocorrendo nos anos anteriores, a situação não seria tão delicada como é atualmente. Segundo ele, em 2010 o Estado repassou para os hospitais menos de R$ 70 milhões. Já em 2011, o valor teria subido para mais de R$ 200 milhões.
Lobato salienta que a visão comum sobre a organização das centrais de regulação é equivocada. "A central não tem de ser tão grande quanto o número de leitos. Ela tem de ser tão grande quanto o déficit de leitos. Se há o número certo de leitos e há uma adequação de fluxos, essa regulação é quase que natural. Se aumentarmos o número de leitos no Interior, por exemplo, é preciso regular menos leitos na Capital", diz.
O déficit de leitos no Rio Grande do Sul, de acordo com o diretor da SES, é de cerca de três mil. Uma das formas de amenizar o problema é investir na saúde básica, evitando que casos simples se compliquem e tenham de ser tratados em hospitais. Para fazer isso, a secretaria tem uma meta. "Queremos incentivar os municípios a terem uma maior cobertura de saúde da família, chegar a 70% da população. Hoje a cobertura no Estado é de 35%. Queremos dobrar o número de equipes de saúde da família, pois, então, não precisaríamos aumentar muito o número de leitos. Se dobrarmos essa cobertura, o déficit cai para 1,5 mil leitos", afirma.
O gestor não nega que há problemas na regulação estadual. Entretanto, segundo ele, se o serviço funcionasse perfeitamente, ele daria resposta às necessidades mais rapidamente, organizaria melhor a fila de espera. "Mas a fila continuaria existindo porque a oferta de leitos é inferior à demanda. Queremos trabalhar nos dois caminhos: melhorar a regulação e aumentar o número de leitos", conclui.
Regulação total deve começar em março em Porto Alegre
Para o secretário municipal-adjunto de Saúde de Porto Alegre, Marcelo Bósio, as críticas do presidente do Cremers são feitas em razão de desconhecimento. "Temos a adesão de todos os serviços de saúde da rede, tanto dos próprios quanto dos conveniados. Temos avançado com muito sucesso", destaca.
A regulação na Capital deve progredir nos primeiros meses deste ano. Atualmente, 40% dos leitos disponíveis na rede municipal são regulados pela secretaria. "Entre janeiro e fevereiro, com a integração dos sistemas dos hospitais com o da secretaria, passaremos a regular 100% dos leitos. Em março já teremos isso", enfatiza o secretário. Segundo ele, o Ministério da Saúde conheceu o sistema da Capital e cogitou, inclusive, adotá-lo como modelo para todo o País. "Isso é um indicativo de sucesso", diz.
Bósio observa que o processo de regulação ainda está em implantação, havendo muito ainda a se fazer. "É uma mudança de cultura. Uma quebra de paradigma nos fluxos de trabalho. Já conseguimos planejar ações com base nas filas de espera. Temos ajustes para trabalhar, o que é normal em qualquer sistema de gerenciamento."
Conforme ele, em 2010, a central regulou duas mil das 180 mil internações na Capital. Já em 2011, foram reguladas 90 mil internações. "Isso são ações concretas resultantes dos processos de informatização", afirma.
Fonte: Jornal do Comércio
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