Gilmar França

Gilmar França
A serviço da categoria!

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Balanço do ano, por Paulo Cezar da Rosa - Colunista da Carta Capital

Aos leitores deste Blog:

Achei interessante reproduzir este texto do Paulo Cezar. Há muita coisa na coluna dele para nos ajudar a pensar a política aqui no Rio Grande. Boa leitura a todos. Mais conteúdo em:


Prezados leitores. O Daniel, meu editor neste espaço, pediu para fazer uma coluna de balanço do ano.

Confesso. Não consegui. Ou melhor: Na verdade, esta coluna é muito diferente de todas as que já escrevi neste espaço. Primeiro, porque não é uma coluna, é uma carta, quase um desabafo; segundo, porque não tenho muito o que dizer. Tenho, apenas, talvez, "à la Guimarães Rosa", algumas coisas a "desdizer".

Minha pauta na revista é tratar da cena política gaúcha. Acreditem: Não é uma tarefa fácil. Sou gaúcho, e ser gaúcho nos dias de hoje não é simples. Ser gaúcho vem se tornando todos os dias mais complicado. Analisar o cenário político é pior ainda. E, em 2010, tudo pode se tornar até mais difícil.

Todas as semanas no últimos meses tenho sido obrigado a refrear meu desejo de pedir ao Daniel para alterar minha pauta. Acordo sempre às segundas feiras desejando falar sobre o Brasil e o sucesso do governo Lula, sobre o Obama e o desafio de administrar a crise do império, sobre a América Latina e a afirmação de seu povo nos espaços públicos. Mas não. Tenho de tratar da cena gaúcha, e isso hoje é tratar da miséria da política, da pequenez, dos mais baixos instintos que quase sempre estão por detrás dos movimentos de hoje em dia no pampa.

Não. Não estou falando de ética ou de falta dela na política gaúcha. Este assunto, confesso, não é o que mais me preocupa. Penso, aliás, que o governo Lula conquistou avanços fantásticos neste terreno. "Nunca na história deste país" se viu tanto criminoso de colarinho branco tocando piano nas delegacias antes reservadas apenas aos bandidos pobres.

O problema é outro. Vivemos hoje num país que saiu da crise porque soube defender suas empresas, seu patrimônio, seu povo. Um país que aos poucos torna-se motivo de orgulho por todos lados. Ser brasileiro na Europa durante muito tempo foi sinônimo de ser trambiqueiro ou prostituta, no máximo jogador de futebol. Nos últimos anos, o país foi capaz de iniciar uma verdadeira revolução que hoje reposiciona o Brasil no mundo. O Rio Grande do Sul, não.

Também não estou falando de justiça social. Esse assunto hoje é domínio federal. E, justiça seja feita, "nunca antes na história desse país" se viu o povo sendo tão "justiçado" como está sendo agora. É Bolsa Família, Fome Zero, Minha Casa Minha Vida, salário mínimo que cresce, emprego que cresce, mais educação e até saúde. E isso, o Brasil está fazendo por todos, inclusive pelos gaúchos.

Estou falando é da falta de liderança, da incapacidade política dos gaúchos, da sua incompetência para tirar o Rio Grande da situação em que encontra. É lamentável, mas todos os indicadores são claros. O Rio Grande do Sul perdeu a onda do crescimento nacional. No Rio Grande do Sul, demos as costas a tudo o que de bom está sendo conquistado em nível nacional. Crescemos como rabo de cavalo. Para baixo, e para trás. E isso é culpa de todos os gaúchos que não conseguiram gestar nas últimas décadas lideranças capazes de enfrentar nossos problemas. Isso é culpa sua e é culpa minha. Acho que é por isso que não consegui fazer um balanço.

Quando Olívio Dutra foi governador, disseram que o problema era o PT. Tivemos quatro ano de PMDB e agora mais quatro de PSDB. Passamos quase oito anos sem o PT e o Estado só piorou. Alguns dizem agora que o problema todo é dos "serristas". O governo gaúcho, tendo a tucana Yeda Crusius à frente, está atolado na falta de ética. E esse seria o seu maior problema.... mas, acreditem, esse não é nosso maior problema.

A falta de ética na política gaúcha é apenas reflexo da mediocridade. Quando ladrões e achacadores se tornam "líderes" políticos, algo está muito mal. E o que está mal entre nós é a falta de liderança verdadeira, é a falta de política, a falta de grandeza.

Hoje, o Rio Grande do Sul está tão preso ao passado que, com tristeza e esperança, lembrei Drummond: "Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente."

Nenhum comentário:

Postar um comentário