Gilmar França

Gilmar França
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quinta-feira, 3 de novembro de 2011

LULA E A VERDADE

Estimadíssimos Sulvinteumenses, reina a tristeza aqui na Mansão Carneiro da Cunha, e a melancolia que aqui gorjeia tem uma causa clara e natural, que é a notícia de que o nosso estimadíssimo Lula teve diagnosticado um tumor na laringe.

Existe o que é do jogo, e doenças e curas são parte desse jogo – desde que paramos com rezas, benzeduras e homeopatias e passamos a tratar as coisas com a seriedade que demandam -, e o que vai muito além do jogo. Nessa categoria está qualquer fator ligado ao Lula, o estadista que tivemos e temos a sorte de ter, na hora exata em que mais precisávamos de um. O que é de Lula, com Lula ou sobre o Lula vai além de qualquer normalidade em nosso país, e assim vivemos desde esse último sábado.

Lula representa uma garantia de estabilidade na política brasileira, que pode até se virar sem ele ao redor o tempo inteiro, mas precisa e muito da sua presença, se não para fazer coisas acontecerem, para evitar que algumas aconteçam. O fato é, caros leitores, que ninguém em suas condições normais de temperatura e pressão, se mete com o Lula e assim, pelo medo ou respeito que inspira, ele evita excessos de todos os lados. E esse estabilizador de voltagem nos faz bem, muito bem.

Eu não estou entre os que acreditam que Lula pensa em voltar à presidência em 2014, e sim entre os que acham que Lula sabe que fez o que tinha que fazer, muito mais do que precisava fazer para já ser o que precisávamos, e que agora é permanecer indo e vindo, falando e sendo ouvido, e pronto. Ele sabe que serve também de paratequieto para a direita e para candidatos excessivamente coloridos que talvez pudessem se agitar na sua ausência.

Acho, cada vez mais, que ele é sim essencial na sua função nada oficial de quem sabe, quem olha, quem fala e é automaticamente escutado. Isso vale muito, caros leitores e é uma sorte a nossa que o tenhamos. Olhem o que custa ao PSDB não ter ninguém com essa dimensão reconhecida entre as suas hostes e, principalmente, fora delas?

E o Lula descobriu ter uma doença que se tornou um medo curável em nosso mundo, depois de ter sido um horror incurável por tantos e tantos séculos, quando chegávamos até eles. Na verdade, nos milênios que passamos rezando pro padinho padi Ciço em vez de irmos lá inventar a ciência, morríamos de tantas causas e tão cedo que nem chegávamos até o câncer. Hoje, podemos enfrentá-lo olho no olho com chances reais de sermos nós quem bate, e ele quem apanha, e isso torna tudo, tudo muito diferente e mais humano.

É nesse ponto da história em que nosso Lula se encontra: como um homem que celebrou seus ricos 66 anos e se prepara para viver mais bons e produtivos outros anos, superando essa doença e a maldade de gente tão desprezível que não precisávamos saber que existe, como soubemos nesses últimos dias. Indignos e ingratos é o que são. Mas são, e estão aí.

No entanto, caros leitores, desejos são desejos e os temos. A realidade é a realidade e dimensioná-la é essencial para podermos dar conta de nossos desejos. E já no sábado fiquei me perguntando: vamos dimensioná-la? Nossa imprensa, tão ávida quando o assunto são delatores, vai se mostrar igualmente disposta a estudar o seu dever de casa e nos trazer a verdade, como é missão dela, mesmo que a esqueça com exagerada frequência?

Querem ver? Qual o tamanho do tumor? Tumor é algo que se mede e pronto. Ele não é uma opinião, mas uma formação celular e tem tamanho. O que eu sei, e vocês sabem é que ele tem entre 2 e 3 centímetros, o que aqui em casa representa uma variação de 50%. Imprensa, são 2, ou 3? As duas coisas, ele não é.

Qual o real estágio da doença? Segundo a imprensa, inicial, ou não avançado. Qual a agressividade? Segundo a imprensa, média. Que raio isso quer dizer, caros leitores?

É tão difícil ir ali perguntar para bons oncologistas o que tudo isso quer dizer? Nosso desejo não é o do sensacionalismo, mas do anti-sensacionalismo, também conhecido como verdade. Eu me importo. Eu me preocupo. Eu quero saber exatamente o que acontece com o meu ex-terno presidente. Eu tenho esse direito.

Pois leio no The Huffington Post, láaaa nos Estados Unidos, que um especialista consultado por eles diz que o tumor não é tão inicial, ou não combinariam quimio com radioterapia. E agora, qual a verdade? Se ela existe, não está tão disponível para a nossa imprensa como para a deles? Não bastar ir ali reunir um conjunto de excelentes médicos e perguntar a eles? Não dá para levantar em nível mundial o que acontece com os pacientes com essas características?

Mais: fomos informados de que dois irmãos de Lula morreram de câncer. Foi na laringe? Eram fumantes? Bebiam? Se trataram? Descobriram em que estágio a doença?

Porque um dos traços dessa doença específica é genético e saber que há dois irmãos que a tiveram pode ser sim muito relevante.

Mais do que isso: essa informação faz parte da verdade, e a verdade deveria ser a matéria prima da imprensa, e ela raramente está encontrável, ao menos em estado de pureza suficiente, em boletins médicos.

Sobre o que acontece com meu ex-eterno presidente, que afeta o meu futuro e o meu presente, além do meu estado de espírito eu quero sim, muito, saber. Milhões de brasileiros e estrangeiros o querem.

Imprensa, cumpra a sua missão e nos traga o que queremos, porque é para isso que você existe. Além do horóscopo, é claro.

Imprensa, por favor, faça a sua parte, porque o resto, é com a gente.

Fonte: Sul 21 - Marcelo Carneiro da Cunha

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