Gilmar França
quinta-feira, 30 de junho de 2011
quarta-feira, 29 de junho de 2011
OLIVIO DUTRA ,O ANTI-PALOCCI
Num velho prédio numa barulhenta avenida de Porto Alegre, em companhia da mulher, vive há quatro décadas o ex-governador e ex-ministro Olívio Dutra. Em três ocasiões, Dutra abandonou seu apartamento: nas duas vezes em que morou em Brasília, uma como deputado federal e outra como ministro, e nos anos em que ocupou o Palácio do Piratini, sede do governo gaúcho. Apesar dos diversos cargos (também foi prefeito de Porto Alegre), o sindicalista de Bossoroca, nos grotões do Rio Grande, leva uma vida simples, incomum para os padrões atuais da porção petista que se refestela no poder.
No momento em que o PT passa por mais uma crise ética, dessa vez causada pela multiplicação extraordinária dos bens do ex-ministro Antonio Palocci, Dutra completou 70 anos. Diante de mais uma denúncia que mina o resto da credibilidade da legenda, ele faz uma reflexão: “Política não é profissão, mas uma missão transitória que deve ser assumida com responsabilidade”.
De chinelos, o ex-governador me recebe em seu apartamento na manhã da terça-feira 14. Sugeriu que eu me “aprochegasse”. Seu apartamento, que ele diz ter comprado por meio do extinto BNH e levado 20 anos para quitar, tem 64 metros quadrados, provavelmente menor do que a varanda do apê comprado por Palocci em São Paulo por módicos 6,6 milhões de reais-. Além dele, o ex-governador possui a quinta parte de um terreno herdado dos pais em São Luiz Gonzaga, na região das Missões, e o apartamento térreo que está comprando no mesmo prédio em que vive. “A Judite (sua mulher) não pode mais subir esses três lances de escada. Antes eu subia de dois em dois degraus. Hoje, vou de um em um.” E por que nunca mudou de edifício ou de bairro? “A vida foi me fixando aqui. E fui aceitando e gostando.”
Sobre a mesa, o jornal do dia dividia espaço com vários documentos, uma bergamota (tangerina), e um CD de lições de latim. Depois de exercer um papel de destaque na campanha vitoriosa de Tarso Genro ao governo estadual, atualmente ele se dedica, como presidente de honra do PT gaúcho, à agenda do partido pelos diretórios municipais e às aulas de língua latina no Instituto de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “O latim é belíssimo, porque não tem nenhuma palavra na sentença latina que seja gratuita, sem finalidade. É como deveria ser feita a política”, inicia a conversa, enquanto descasca uma banana durante seu improvisado café da manhã.
Antes de se tornar sindicalista, Dutra graduou-se em Letras. A vontade de estudar sempre foi incentivada pela mãe, que aprendeu a ler com os filhos. E, claro, o nível superior e a fluência em uma língua estrangeira poderiam servir para alcançar um cargo maior no banco. Mas o interior gaúcho nunca o abandonou. Uma de suas características marcantes é o forte sotaque campeiro e suas frases encerradas com um “não é?” “Este é o meu tio Olívio, por isso tenho esse nome, não é? Ele saiu cedo lá daquele fundão de campo por conta do autoritarismo de fazendeiro e capataz que ele não quis se submeter, não é?”, relembra, ao exibir outra velha foto emoldurada na parede, em que posam seus tios e o avô materno com indumentárias gaudérias. “É o gaúcho a pé. Aquele que não está montado no cavalo, o empobrecido, que foi preciso ir pra cidade e deixar a vida campeira.”
Na sala, com exceção da tevê de tela plana, todos os móveis são antigos. O sofá, por exemplo, “tem uns 20 anos”. Pelo apartamento de dois quartos acomodam-se livros e CDs, além de souvenires diversos, presentes de amigos ou lembrança dos tempos em que viajava como ministro das Cidades no primeiro mandato de Lula.
Dutra aposentou-se no Banrisul, o banco estadual, com salário de 3.020 reais-. Somado ao vencimento mensal de 18.127 reais de ex-governador, ele leva uma vida tranquila. “Mas não mudei de padrão por causa desses 18 mil. Além do mais, um porcentual sempre vai para o partido. Nunca deixei de contribuir.”
Foi como presidente do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, em 1975, que iniciou sua trajetória política. Em 1980, participou da fundação do PT e presidiu o partido no Rio Grande do Sul até 1986, quando foi eleito deputado federal constituinte. Em 1987, elegeu-se presidente nacional da sigla, época em que dividiu apartamento em Brasília com Lula e o atual senador Paulo Paim, também do Rio Grande do Sul. “Só a sala daquele já era maior do que todo esse meu apartamento.”
Foi nessa época que Dutra comprou um carro, logo ele que não sabe e nem quer aprender a dirigir. “Meu cunhado, que também era o encarregado da nossa boia, ficava com o carro para me carregar.” Mas ele prefere mesmo é o ônibus. “Essa coisa de cada um ter um automóvel é um despropósito, uma impostura da indústria automobilística, do consumismo.” Por isso, ou anda de carona ou de coletivo, que usa para ir à faculdade duas vezes por semana.
“Só para ir para a universidade, gasto 10,80 reais por dia. Como mais de 16 milhões de brasileiros sobrevivem com 2,30 reais de renda diária? Este país está cheio de desigualdades enraizadas”, avalia, e aproveita a deixa para criticar a administração Lula. “O governo não ajudou a ir fundo nas reformas necessárias. As prioridades não podem ser definidas pela vaidade do governante, pelos interesses de seus amigos e financiadores de campanha. Mas, sim, pelos interesses e necessidades da maioria da população.”
O ex-governador lamenta os deslizes do PT e reconhece que sempre haverá questões delicadas a serem resolvidas. Mas cabe à própria sigla fazer as correções. “Não somos um convento de freiras nem um grupo de varões de Plutarco, mas o partido tem de ter na sua estrutura processos democráticos para evitar que a política seja também um jogo de esperteza.”
Aproveitei a deixa: e o Palocci? “Acho que o Palocci fez tudo dentro da legitimidade e legalidade do status quo. Mas o PT não veio para legitimar esse status quo, em que o sujeito, pelas regras que estão aí e utilizando de espertezas e habilidades, enriquece.”
E o senhor, com toda a sua experiência política, ainda não foi convidado para prestar consultoria? Dutra sorri e, com seu gestual característico, abrindo os braços e gesticulando bastante, responde: “Tem muita gente com menos experiência que ganha muito dinheiro fazendo as tais assessorias. Mas não quero saber disso”.
Mas o senhor nunca recebeu por uma palestra? “Certa vez, palestrei numa empresa, onde me pagaram a condução, o hotel e, depois, perguntaram quanto eu iria cobrar. Eu disse que não cobro por isso. Então me deram de presente uma caneta. E nem era uma caneta fina”, resumiu, antes de soltar uma boa risada.
Fonte: Carta Capital
No momento em que o PT passa por mais uma crise ética, dessa vez causada pela multiplicação extraordinária dos bens do ex-ministro Antonio Palocci, Dutra completou 70 anos. Diante de mais uma denúncia que mina o resto da credibilidade da legenda, ele faz uma reflexão: “Política não é profissão, mas uma missão transitória que deve ser assumida com responsabilidade”.
De chinelos, o ex-governador me recebe em seu apartamento na manhã da terça-feira 14. Sugeriu que eu me “aprochegasse”. Seu apartamento, que ele diz ter comprado por meio do extinto BNH e levado 20 anos para quitar, tem 64 metros quadrados, provavelmente menor do que a varanda do apê comprado por Palocci em São Paulo por módicos 6,6 milhões de reais-. Além dele, o ex-governador possui a quinta parte de um terreno herdado dos pais em São Luiz Gonzaga, na região das Missões, e o apartamento térreo que está comprando no mesmo prédio em que vive. “A Judite (sua mulher) não pode mais subir esses três lances de escada. Antes eu subia de dois em dois degraus. Hoje, vou de um em um.” E por que nunca mudou de edifício ou de bairro? “A vida foi me fixando aqui. E fui aceitando e gostando.”
Sobre a mesa, o jornal do dia dividia espaço com vários documentos, uma bergamota (tangerina), e um CD de lições de latim. Depois de exercer um papel de destaque na campanha vitoriosa de Tarso Genro ao governo estadual, atualmente ele se dedica, como presidente de honra do PT gaúcho, à agenda do partido pelos diretórios municipais e às aulas de língua latina no Instituto de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. “O latim é belíssimo, porque não tem nenhuma palavra na sentença latina que seja gratuita, sem finalidade. É como deveria ser feita a política”, inicia a conversa, enquanto descasca uma banana durante seu improvisado café da manhã.
Antes de se tornar sindicalista, Dutra graduou-se em Letras. A vontade de estudar sempre foi incentivada pela mãe, que aprendeu a ler com os filhos. E, claro, o nível superior e a fluência em uma língua estrangeira poderiam servir para alcançar um cargo maior no banco. Mas o interior gaúcho nunca o abandonou. Uma de suas características marcantes é o forte sotaque campeiro e suas frases encerradas com um “não é?” “Este é o meu tio Olívio, por isso tenho esse nome, não é? Ele saiu cedo lá daquele fundão de campo por conta do autoritarismo de fazendeiro e capataz que ele não quis se submeter, não é?”, relembra, ao exibir outra velha foto emoldurada na parede, em que posam seus tios e o avô materno com indumentárias gaudérias. “É o gaúcho a pé. Aquele que não está montado no cavalo, o empobrecido, que foi preciso ir pra cidade e deixar a vida campeira.”
Na sala, com exceção da tevê de tela plana, todos os móveis são antigos. O sofá, por exemplo, “tem uns 20 anos”. Pelo apartamento de dois quartos acomodam-se livros e CDs, além de souvenires diversos, presentes de amigos ou lembrança dos tempos em que viajava como ministro das Cidades no primeiro mandato de Lula.
Dutra aposentou-se no Banrisul, o banco estadual, com salário de 3.020 reais-. Somado ao vencimento mensal de 18.127 reais de ex-governador, ele leva uma vida tranquila. “Mas não mudei de padrão por causa desses 18 mil. Além do mais, um porcentual sempre vai para o partido. Nunca deixei de contribuir.”
Foi como presidente do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre, em 1975, que iniciou sua trajetória política. Em 1980, participou da fundação do PT e presidiu o partido no Rio Grande do Sul até 1986, quando foi eleito deputado federal constituinte. Em 1987, elegeu-se presidente nacional da sigla, época em que dividiu apartamento em Brasília com Lula e o atual senador Paulo Paim, também do Rio Grande do Sul. “Só a sala daquele já era maior do que todo esse meu apartamento.”
Foi nessa época que Dutra comprou um carro, logo ele que não sabe e nem quer aprender a dirigir. “Meu cunhado, que também era o encarregado da nossa boia, ficava com o carro para me carregar.” Mas ele prefere mesmo é o ônibus. “Essa coisa de cada um ter um automóvel é um despropósito, uma impostura da indústria automobilística, do consumismo.” Por isso, ou anda de carona ou de coletivo, que usa para ir à faculdade duas vezes por semana.
“Só para ir para a universidade, gasto 10,80 reais por dia. Como mais de 16 milhões de brasileiros sobrevivem com 2,30 reais de renda diária? Este país está cheio de desigualdades enraizadas”, avalia, e aproveita a deixa para criticar a administração Lula. “O governo não ajudou a ir fundo nas reformas necessárias. As prioridades não podem ser definidas pela vaidade do governante, pelos interesses de seus amigos e financiadores de campanha. Mas, sim, pelos interesses e necessidades da maioria da população.”
O ex-governador lamenta os deslizes do PT e reconhece que sempre haverá questões delicadas a serem resolvidas. Mas cabe à própria sigla fazer as correções. “Não somos um convento de freiras nem um grupo de varões de Plutarco, mas o partido tem de ter na sua estrutura processos democráticos para evitar que a política seja também um jogo de esperteza.”
Aproveitei a deixa: e o Palocci? “Acho que o Palocci fez tudo dentro da legitimidade e legalidade do status quo. Mas o PT não veio para legitimar esse status quo, em que o sujeito, pelas regras que estão aí e utilizando de espertezas e habilidades, enriquece.”
E o senhor, com toda a sua experiência política, ainda não foi convidado para prestar consultoria? Dutra sorri e, com seu gestual característico, abrindo os braços e gesticulando bastante, responde: “Tem muita gente com menos experiência que ganha muito dinheiro fazendo as tais assessorias. Mas não quero saber disso”.
Mas o senhor nunca recebeu por uma palestra? “Certa vez, palestrei numa empresa, onde me pagaram a condução, o hotel e, depois, perguntaram quanto eu iria cobrar. Eu disse que não cobro por isso. Então me deram de presente uma caneta. E nem era uma caneta fina”, resumiu, antes de soltar uma boa risada.
Fonte: Carta Capital
CEARA: ENTIDADES DA SAÚDE E MOVIMENTOS POPULARES LANÇAM FRENTE EM DEFESA DO SUS E CONTRA A PRIVATIZAÇÂO DA SAÚDE
Profissionais de saúde (médicos, odontólogos e assistentes sociais) representados por seus respectivos sindicatos e outras 11 entidades, apoiadas pela CUT e outras duas centrais sindicais, lançam nesta quarta-feira, 29, às 9h, a Frente Cearense em Defesa do SUS e contra a Privatização da Saúde. O evento acontece no Auditório Murilo Aguiar da Assembleia Legislativa. No lançamento, haverá palestra sobre a importância do Sistema Único de Saúde (SUS).
A Frente formada por 19 entidades luta contra a Medida Provisória 520 que autoriza o Governo Federal a criar a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares S.A que passará a ser responsável pela gestão de 46 hospitais universitários no Brasil. Para as entidades que compõem a frente, a medida é um passo para a privatização de hospitais de ensino, desvinculando-os das universidades federais.
Estão na coordenação provisória da frente: MOVA-SE (Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Estadual), Sindicato dos Odontologistas do Estado do Ceará e Central dos Movimentos Populares (CMP).
No entendimento da diretora de Mulher Trabalhadora do MOVA-SE, Auxiliadora Alencar, que também é servidora da saúde, a medida representa um retrocesso na defesa do serviço público e de qualidade.
No último dia 1° de junho, essa e mais outras medidas não puderam ser votadas no Senado Federal porque perderam a validade. No entanto sua votação só foi adiada para o segundo semestre. Como já foi aprovada pela Câmara dos Deputados, a luta agora é para que ela não volte a ser editada.
Entidades que apoiam a Frente:
ASSEEC – CA XII DE MAIO DA UFC – CENTRAL DE MOVIMENTOS POPULARES – CESAU – CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE – CTB – CUT – INTERSINDICAL - MAB – MOVA-SE - MST – SASEC – SIMEC - SINDODONTO - SINDSAÚDE – SINFARCE – SINPAOCI – SINPRECE – SINTSEF
FONTE: MOVA-SE
A Frente formada por 19 entidades luta contra a Medida Provisória 520 que autoriza o Governo Federal a criar a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares S.A que passará a ser responsável pela gestão de 46 hospitais universitários no Brasil. Para as entidades que compõem a frente, a medida é um passo para a privatização de hospitais de ensino, desvinculando-os das universidades federais.
Estão na coordenação provisória da frente: MOVA-SE (Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Estadual), Sindicato dos Odontologistas do Estado do Ceará e Central dos Movimentos Populares (CMP).
No entendimento da diretora de Mulher Trabalhadora do MOVA-SE, Auxiliadora Alencar, que também é servidora da saúde, a medida representa um retrocesso na defesa do serviço público e de qualidade.
No último dia 1° de junho, essa e mais outras medidas não puderam ser votadas no Senado Federal porque perderam a validade. No entanto sua votação só foi adiada para o segundo semestre. Como já foi aprovada pela Câmara dos Deputados, a luta agora é para que ela não volte a ser editada.
Entidades que apoiam a Frente:
ASSEEC – CA XII DE MAIO DA UFC – CENTRAL DE MOVIMENTOS POPULARES – CESAU – CONSELHO MUNICIPAL DE SAÚDE – CTB – CUT – INTERSINDICAL - MAB – MOVA-SE - MST – SASEC – SIMEC - SINDODONTO - SINDSAÚDE – SINFARCE – SINPAOCI – SINPRECE – SINTSEF
FONTE: MOVA-SE
OS SALÁRIOS ,OS EMPREGOS E OS QUE ACHAM QUE ELES SÃO " EXECESSIVOS"
Nas faixas salariais em que estão os trabalhadores mais qualificados houve mais
demissões do que admissões
A tabela desta página foi extraída da nova edição de “Análise da Seguridade Social”, uma publicação primorosa da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (ANFIP) e da Fundação ANFIP de Estudos da Seguridade Social.
Em breve, publicaremos artigo mais extenso sobre esse trabalho. Por ora, o que nos faz dar conhecimento desta tabela aos nossos leitores, é a atual tagarelice (por ser sinistra, não é menos tagarelice) sobre um suposto superaquecimento do mercado de trabalho, que levaria a um “excessivo” aumento dos salários. Vejamos, então, a tabela.
Seus números não se referem aos empregados totais na economia brasileira, mas à criação ou destruição de empregos - o saldo de novos postos de trabalho, subtraindo das admissões as demissões.
Mesmo assim, é possível ter uma ideia bastante clara de como os brasileiros ganham pouco e de como o aumento do emprego, nos últimos anos, foi um aumento nos empregos de salários mais baixos, o que seria normal e saudável, se não fosse a queda nas faixas salariais mais altas, o rebaixamento salarial - em termos de número de salários mínimos - na parcela maior dos que conseguem emprego (e, certamente, o fato do salário mínimo ainda ser tão baixo).
Evidentemente, a situação é muito melhor que no governo Fernando Henrique, quando, entre 1995 e 1998, as demissões superaram as admissões em 1.108.600. Os dados, todos oficiais, de 1995 até o ano passado, estão na página 50 de “Análise da Seguridade Social em 2010”.
Aqui, reproduzimos os números dos três últimos anos. Apesar da crise penetrar aqui já no último trimestre de 2008, nesse ano a economia crescia, até setembro, a uma taxa de +6,4%.
Números falam por si
Números falam por si
Até então a parcela maior dos que conseguiam empregar-se, obtinha salários de 1,5 a 2 salários mínimos (v. tabela). A crise - que provocou, somente entre os trabalhadores com carteira assinada, 1.483.673 demissões em 2009 (cf. CAGED12) – fez com que o número dos que conseguiram empregos nesse patamar caísse de 1 milhão e 40 mil, em 2008, para 8 mil e 800 no ano seguinte.
Em 2009, essa faixa salarial de 1,5 a 2 salários mínimos passou a ser terciária. Os salários da maioria dos que conseguiram empregar-se foi numa faixa inferior, de 1 a 1,5 salário mínimo - e, em segundo lugar, lastimavelmente, na faixa de menos do que 1 salário mínimo.
Quando houve a recuperação na criação de empregos em 2010, essa distribuição dos empregos em relação aos salários continuou preponderante. Ou seja, a mediana foi deslocada para baixo em relação ao período de antes da crise – a recuperação do emprego se deu com um rebaixamento do nível dos salários.
Em 2008, os empregos (não a criação de empregos,mas os empregos) diminuíram em todas as faixas salariais acima de 3 salários mínimos. Portanto, o limite salarial até onde os empregos cresceram (ou, o que é dizer a mesma coisa, onde as admissões foram em número maior que as demissões) foi de R$ 1.245,00 (salário mínimo=R$ 415,00). Acima disso, houve menos empregos.
Pior ainda nos últimos dois anos, os empregos reduziram-se em todas as faixas salariais acima de dois salários mínimos. Assim, em 2009, caíram os empregos com salário acima de R$ 930,00 (salário mínimo=R$ 465,00). Em 2010, o limite foi R$ 1.020,00 – além desse salário, os empregos diminuíram.
A realidade, portanto, mostrou-se incompatível com uma das lendas neoliberais: a de que existe desemprego porque o trabalhador não está qualificado. Exatamente nas faixas salariais em que estão os trabalhadores mais qualificados é que houve mais demissões do que admissões. Permanece, portanto, que há trabalhadores desempregados simplesmente porque falta emprego para eles. É um problema de crescimento da economia e não de sofisticação tecnológica - que sempre pode ser adquirida, até rapidamente, se existe necessidade, isto é, emprego. Mas, sem dúvida, esse não é o caso numa economia crescentemente importadora.
Com uma oferta de trabalho onde os salários são tão baixos, pode parecer espantoso que alguns – até no próprio governo – digam que há gente demais empregada, com os salários, por isso, sendo “pressionados” para cima, o que causaria inflação. Como se a restrição do mercado interno pelo rebaixamento de salários, os juros altos e taxa diminuta de investimento não nos deixassem, precisamente, à mercê dos preços de monopólio – inclusive, dependentes do preço das importações, por mais subsídio cambial que o BC e a Fazenda lhes concedam.
Mas tal sapiência já tem marca registrada há 70 anos – e, ao longo desse tempo, já foi desmoralizada várias vezes, inclusive, em 1977, por um sindicalista conhecido por Lula.
No final dos anos 30 e início dos anos 40 do século passado, o reacionaríssimo entreguista Eugenio Gudin (nem todo entreguista consegue ser tão reacionário) afirmou que o problema do Brasil era o pleno-emprego - aliás, o “hiperemprego” - que levava o país à inflação.
Há pessoas de boa fé que consideram que Gudin foi um “economista”. Ledo engano. Desde cedo, ele foi um diretor e/ou membro do conselho de filiais de empresas estrangeiras, que traduzia o interesse dessas empresas em jargão pseudo-teórico, copiado de autores também estrangeiros.
Gudin era tão reacionário que, lá por 1968, atacou a ditadura que apoiara sofregamente desde o primeiro momento - aliás, desde muito antes – porque, dizia ele, o governo da época optara erradamente por “incrementar a taxa de desenvolvimento” ao invés de promover “um combate radical à inflação”. Ele esclarece o que era esse “combate radical”: “Uma ‘taxa mínima de desemprego’ e de capacidade ociosa é indispensável no combate à inflação. A começar porque há em todos os países uma ‘taxa de desemprego normal’” (cf. Gudin, “O pleno emprego e a inflação”, set./1968).
Bem, leitores, basta substituir a palavra “normal” por “natural”, e teremos o besteirol de hoje, com alguns débeis mentais discutindo se são oito, dez ou quinze milhões os brasileiros que devem estar desempregados. O espantoso mesmo, com empregos, convenhamos, miseráveis - como mostra a nossa tabela - é a falta de vergonha de uns e o servilismo de outros.
FONTE: Carlos Lopes - Hora do Povo
demissões do que admissões
A tabela desta página foi extraída da nova edição de “Análise da Seguridade Social”, uma publicação primorosa da Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (ANFIP) e da Fundação ANFIP de Estudos da Seguridade Social.
Em breve, publicaremos artigo mais extenso sobre esse trabalho. Por ora, o que nos faz dar conhecimento desta tabela aos nossos leitores, é a atual tagarelice (por ser sinistra, não é menos tagarelice) sobre um suposto superaquecimento do mercado de trabalho, que levaria a um “excessivo” aumento dos salários. Vejamos, então, a tabela.
Seus números não se referem aos empregados totais na economia brasileira, mas à criação ou destruição de empregos - o saldo de novos postos de trabalho, subtraindo das admissões as demissões.
Mesmo assim, é possível ter uma ideia bastante clara de como os brasileiros ganham pouco e de como o aumento do emprego, nos últimos anos, foi um aumento nos empregos de salários mais baixos, o que seria normal e saudável, se não fosse a queda nas faixas salariais mais altas, o rebaixamento salarial - em termos de número de salários mínimos - na parcela maior dos que conseguem emprego (e, certamente, o fato do salário mínimo ainda ser tão baixo).
Evidentemente, a situação é muito melhor que no governo Fernando Henrique, quando, entre 1995 e 1998, as demissões superaram as admissões em 1.108.600. Os dados, todos oficiais, de 1995 até o ano passado, estão na página 50 de “Análise da Seguridade Social em 2010”.
Aqui, reproduzimos os números dos três últimos anos. Apesar da crise penetrar aqui já no último trimestre de 2008, nesse ano a economia crescia, até setembro, a uma taxa de +6,4%.
Números falam por si
Números falam por si
Até então a parcela maior dos que conseguiam empregar-se, obtinha salários de 1,5 a 2 salários mínimos (v. tabela). A crise - que provocou, somente entre os trabalhadores com carteira assinada, 1.483.673 demissões em 2009 (cf. CAGED12) – fez com que o número dos que conseguiram empregos nesse patamar caísse de 1 milhão e 40 mil, em 2008, para 8 mil e 800 no ano seguinte.
Em 2009, essa faixa salarial de 1,5 a 2 salários mínimos passou a ser terciária. Os salários da maioria dos que conseguiram empregar-se foi numa faixa inferior, de 1 a 1,5 salário mínimo - e, em segundo lugar, lastimavelmente, na faixa de menos do que 1 salário mínimo.
Quando houve a recuperação na criação de empregos em 2010, essa distribuição dos empregos em relação aos salários continuou preponderante. Ou seja, a mediana foi deslocada para baixo em relação ao período de antes da crise – a recuperação do emprego se deu com um rebaixamento do nível dos salários.
Em 2008, os empregos (não a criação de empregos,mas os empregos) diminuíram em todas as faixas salariais acima de 3 salários mínimos. Portanto, o limite salarial até onde os empregos cresceram (ou, o que é dizer a mesma coisa, onde as admissões foram em número maior que as demissões) foi de R$ 1.245,00 (salário mínimo=R$ 415,00). Acima disso, houve menos empregos.
Pior ainda nos últimos dois anos, os empregos reduziram-se em todas as faixas salariais acima de dois salários mínimos. Assim, em 2009, caíram os empregos com salário acima de R$ 930,00 (salário mínimo=R$ 465,00). Em 2010, o limite foi R$ 1.020,00 – além desse salário, os empregos diminuíram.
A realidade, portanto, mostrou-se incompatível com uma das lendas neoliberais: a de que existe desemprego porque o trabalhador não está qualificado. Exatamente nas faixas salariais em que estão os trabalhadores mais qualificados é que houve mais demissões do que admissões. Permanece, portanto, que há trabalhadores desempregados simplesmente porque falta emprego para eles. É um problema de crescimento da economia e não de sofisticação tecnológica - que sempre pode ser adquirida, até rapidamente, se existe necessidade, isto é, emprego. Mas, sem dúvida, esse não é o caso numa economia crescentemente importadora.
Com uma oferta de trabalho onde os salários são tão baixos, pode parecer espantoso que alguns – até no próprio governo – digam que há gente demais empregada, com os salários, por isso, sendo “pressionados” para cima, o que causaria inflação. Como se a restrição do mercado interno pelo rebaixamento de salários, os juros altos e taxa diminuta de investimento não nos deixassem, precisamente, à mercê dos preços de monopólio – inclusive, dependentes do preço das importações, por mais subsídio cambial que o BC e a Fazenda lhes concedam.
Mas tal sapiência já tem marca registrada há 70 anos – e, ao longo desse tempo, já foi desmoralizada várias vezes, inclusive, em 1977, por um sindicalista conhecido por Lula.
No final dos anos 30 e início dos anos 40 do século passado, o reacionaríssimo entreguista Eugenio Gudin (nem todo entreguista consegue ser tão reacionário) afirmou que o problema do Brasil era o pleno-emprego - aliás, o “hiperemprego” - que levava o país à inflação.
Há pessoas de boa fé que consideram que Gudin foi um “economista”. Ledo engano. Desde cedo, ele foi um diretor e/ou membro do conselho de filiais de empresas estrangeiras, que traduzia o interesse dessas empresas em jargão pseudo-teórico, copiado de autores também estrangeiros.
Gudin era tão reacionário que, lá por 1968, atacou a ditadura que apoiara sofregamente desde o primeiro momento - aliás, desde muito antes – porque, dizia ele, o governo da época optara erradamente por “incrementar a taxa de desenvolvimento” ao invés de promover “um combate radical à inflação”. Ele esclarece o que era esse “combate radical”: “Uma ‘taxa mínima de desemprego’ e de capacidade ociosa é indispensável no combate à inflação. A começar porque há em todos os países uma ‘taxa de desemprego normal’” (cf. Gudin, “O pleno emprego e a inflação”, set./1968).
Bem, leitores, basta substituir a palavra “normal” por “natural”, e teremos o besteirol de hoje, com alguns débeis mentais discutindo se são oito, dez ou quinze milhões os brasileiros que devem estar desempregados. O espantoso mesmo, com empregos, convenhamos, miseráveis - como mostra a nossa tabela - é a falta de vergonha de uns e o servilismo de outros.
FONTE: Carlos Lopes - Hora do Povo
sexta-feira, 24 de junho de 2011
SINDISAÚDE-RS realiza protesto na Redenção
No próximo domingo, dia 26 de junho, o SINDISAÚDE-RS realiza um protesto no Parque Farroupilha (Redenção), defronte ao Monumento ao Expedicionário, pelo fim das demissões irregulares de servidores públicos concursados no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, e contra a utilização de 164 leitos pelo setor privado neste hospital.
O Sindicato, diante do caos que se encontra a saúde pública no Estado do Rio Grande do Sul, também irá se manifestar contra a atual situação das emergências e as más condições de trabalho que os profissionais enfrentam diariamente.
Evandra Jacques (MTb-14979)
sábado, 18 de junho de 2011
segunda-feira, 13 de junho de 2011
Insubordinação e legitimidade
Insubordinação e legitimidade
Enviado por Marco Pires em sab, 11/06/2011 - 18:19.
Quando ouvi o governador do Rio de Janeiro tentar explicar a ação da polícia de choque contra os Bombeiros tive a noção do tipo conflitos de legitimidades que teremos de enfrentar cada vez mais. A ideia de tentar identificar os grevistas com criminosos comuns foi ridícula.
Há várias formas de ruína para as instituições. De muitas maneiras pode emergir um Estado falido. A mais perversa é que se institui com a corrupção da esfera política, de um lado, e a infiltração do crime organizado na sociedade e nas instituições públicas, de outro. Os primeiros prometem o paraíso a cada pleito eleitoral. Os outros impõem a ordem dos senhores da guerra em cada território em que a lei perece.
Os direitos trabalhistas são uma conquista dos trabalhadores organizados. Certamente também é o fruto de um cálculo das elites econômicas. E, finalmente, de um pacto social ente capital e trabalho. O direito trabalhista impede um banho de sangue a cada movimento de ajuste nas relações entre capital e trabalho.
O enforcamento de lideranças grevistas (origem do 1º de Maio) e o espetáculo grotesco dos corpos de centenas de operárias carbonizadas em uma fábrica ocupada são exemplos históricos do que se evita a partir dos direitos do trabalho estarem assegurados legalmente.
A questão é o que é mais legítimo ou ilegítimo. Que desordem é mais danosa. A hierarquia que ordena as obrigações dos servidores públicos e das lideranças políticas em relação à autoridade dos eleitores vem sendo aviltada sistematicamente.
A infiltração do crime organizado nas instituições de saúde e de segurança está por demais demostrada e provada. São mais frequentes do que a atividade repressiva e penal pode dar conta. Estatisticamente parece compensar ser criminoso e corrupto, a julgar pela lentidão em que é viável provar e punir.
Restam poucas alternativas ao governo do Rio. A mais prudente é ser humilde. Olhar para a onda recente de assassinatos no México e reconhecer que a verdadeira ameaça não são os cerca de 400 bombeiros, seus cônjuges e seus filhos.
A anistia é o único caminho capaz de dar fôlego aos agentes públicos que ainda não foram corrompidos. Achar um lugar legítimo para as reinvindicações da “elite da tropa da vida”. Já que o crime organizado não fará reinvindicações. Fará acertos de conta.
Ademais não deveriam ser militares nossos Bombeiros. A tese da insubordinação e da impunidade não se aplicaria a eles se um estatuto não militar lhes fosse concedido.
De qualquer forma como as coisas estão dadas, fica o Governo muito mal. Como disse na ordem de insubordinações a serem tratadas, as dos Bombeiros são as que têm legitimidade.
Se não forem acolhidas, estaremos semeando os frutos da falência do Estado Democrático de Direito. Simplesmente porque faltam aos governantes a autoridade e legitimidade que sobra aos insurgentes.
Assinar:
Postagens (Atom)